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Escritos sobre Boaz. Glória Diógenes - posted by guest on 17th March 2021 08:59:44 PM

 você não vê. da ponta dos meus dedos emanam feixes sem nome. tu me arremetas de onde não estou. ondulações precipitações delírios formigamentos irrupções gagueira. vou até o fundo do fundo. você não se move. Boaz teu escoamento aos jorros, tua hemorragia, tua evaporação e essa incessante tarefa de evacuar tudo que existe. nas noites em que os lobos uivam, em que as cercas estalam, em que se ouve o trepidar dos corpos que nunca dormem você permanece imóvel. quem dera lamber tua pele que se estica em chamalote. fios de camelos vagueiam desertos. você não é você não sou eu nem ninguém. glóbulos negros em tramas de azeviche. leite derramado sob um amarelo que cai azul, contorna verde e vira mar em peixe que avoa sangue. 


multidão


Boaz tu árvore, tu refugiado, tu boiando com 1.5 mil migrantes no mar do mediterrâneo, tu broto grama firmamento. tu Dandara. a cada 48 horas uma pessoa trans assassinada no brasil. tu erva daninha na grama artificial dos poderes. espécie de reserva que anima o sono do tempo. nós, mergulhados nessa cruel tigela de humores a saquear ameaças de transfiguração. nós e essa mania de um corpo habitado em alma pura. exaltado em contornos visíveis. nós e a apregoada modalidade do tangível.


 arrisca

 

adeus às paginas sucessivas e a estupidez do organismo que funciona. teu corpo alarme, sirene dos esfacelados, elogio dos destemperados. ah Boaz tu que existes nessa contingência embaralhada, nessa deformidade espiralada, me conta como vazar em abraços de cores à bolar. tu xamã na superabundância de significantes, eu nó monocromático. tu permutado em fios de mil voltas, eu rasurado na placa do trânsito. tu polimorfo, politropo, cristal ângulo deformado, multimorte, poli amor. eu querendo um lugar. falo de um tempo Boaz, de uma aridez sem apelo. mata-se o corpo que se dilata. ou se mata.


entre frestas  


não se engane: as circunstâncias fazem os lugares. do chão de tua existência pêndulo, da tua contingência transmudada em eternidade se ergue o profano andor dos outsiders. tu viajas em poros flutuantes. segura a minha mão? o fio entre teus dedos é imperceptível. me apraz brincos amarelos e tua natureza mesclada. percorremos estrelas circumpolares. nada se esconde. permaneces fincado no horizonte. eu e você dois muitos. tão divinos quanto o anjo caído no esquecimento. quanto o grito dos amantes cortando a fria lâmina da escuridão.    


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