𝓓𝓲𝓪 𝟏𝟐 𝓭𝓮 𝓸𝓾𝓽𝓾𝓫𝓻𝓸 𝓭𝓮 𝟐𝟎𝟎𝟒, as ruas encontravam-se abandonadas devido às chuvas e ao frio imenso que se fazia sentir àquela hora da noite.

O relógio apontava as 20 horas, tempo de ouvir as notícias e reunir a família para jantar e passar um dito serão; pelo menos, na maior parte das casas. Contudo, a 𝑴𝒂𝒏𝒔𝒂̃𝒐 𝑩𝒖𝒈𝒂𝒕𝒕𝒊 𝑴𝒂𝒏𝒔𝒐𝒏 era conhecida por uma agitação constante, algo capaz de tirar a paciência a todos os santos e de fazer os mortos darem as devidas voltas no caixão; algo que era esperado numa casa com 4 crianças: Lorenzo e Sylas com 11 anos, Fleur com 9 e, o elemento mais novo da família, a Magdalena com 7.

A agitação não era exceção esta noite, as crianças corriam de um lado para o outro, cada um com a sua brincadeira e com os devidos aliados. A Magdalena brincava aos cabeleireiros com a irmã mais velha, enquanto os dois irmãos jogavam a uma espécie de apanhada para saber quem teria a sorte de levar o dinheiro da caixa do cabeleireiro das irmãs. As gargalhadas eram seguidas de gritos.

- 𝖫𝗈, 𝗉𝖺𝗋𝖺 𝖼𝗈𝗆 𝗂𝗌𝗌𝗈! - Exaltava-se a mais pequena, enquanto era tragicamente roubada. 

- 𝖠𝗀𝗈𝗋𝖺 𝖾́ 𝖺 𝗆𝗂𝗇𝗁𝖺 𝗏𝖾𝗓!– Pronunciava-se Sylas preparado para começar a correr.

- 𝖣𝖾𝗂𝗑𝖾𝗆-𝗇𝗈𝗌 𝖻𝗋𝗂𝗇𝖼𝖺𝗋!– Implorava a Fleur num tom frustrado.

- 𝖵𝗈𝖼𝖾̂𝗌 𝗌𝖺̃𝗈 𝗎𝗆𝖺 𝗌𝖾𝖼𝖺.– Declarou o primogénito.

Enquanto os vários dramas ocorriam no pequeno cabeleireiro fictício dos mais novos, Hermione, a mãe das crianças, passeava pela casa para trás e para a frente, de forma apressada. A mesa estava a ser composta aos poucos e o cheiro intenso a bacalhau no forno exaltava o estômago de todos os pequenos que, de uma maneira ou de outra, começavam a entrar na chamada: birra da fome.

O relógio aponta as 20:30 e as crianças, como se de uma urgência se tratasse, correm amontoadamente para a casa de banho; a aflição apoderou-se do sentimento deles e a água começava a voar para todos os lados. “𝖤́ 𝖺 𝗆𝗂𝗇𝗁𝖺 𝗏𝖾𝗓.” “𝖭𝖺̃𝗈 𝖾́ 𝖺 𝗆𝗂𝗇𝗁𝖺.” Reclamavam uns com os outros. Hermione que passava inúmeras vezes por esta divisão apenas baloiçava a cabeça em desaprovação, mas o sorriso estampado na sua face revelava a ternura que sentia perante estes pequenos momentos.

A porta da rua é fechada com a devida força e as crianças terminam imediatamente todo o alarido e correm para fora da casa de banho.

- 𝖡𝗈𝖺 𝗇𝗈𝗂𝗍𝖾, 𝗉𝖺𝗂.– Proferem em coro ao visualizarem o seu progenitor diante os seus olhos.

- 𝖡𝗈𝖺 𝗇𝗈𝗂𝗍𝖾.– Obtém resposta com a habitual amargura.

Baixam a cabeça e caminham até aos seus lugares em silêncio sem qualquer brincadeira, parecia que tinham sido injetados de maturidade com o fechar daquela porta. Contudo, a pequena Magdalena foi a única que, antes de seguir os seus irmãos, parou perto do seu pai e rodeou as pernas do mesmo com os seus pequenos braços, uma espécie de abraço. O Sylas e o Lorenzo trocam um olhar explicativo entre ambos – a conexão destes dois era inexplicável, e ficam durante momentos a ler a mente um do outro, como se de uma conversa se tratasse.

William solta-se finalmente dos braços que lhe prendiam as pernas e vai colocar as coisas que trazia consigo no seu escritório. A Magdalena corre para a mesa e senta-se no seu lugar, diante o Sylas que quebrava agora contacto com Lorenzo devido a toda a agitação que os começava a rodear. Hermione aparece finalmente com o tabuleiro quente vindo da cozinha e posiciona o mesmo no centro da mesa.

- 𝖡𝗈𝖺 𝗇𝗈𝗂𝗍𝖾.– A voz rude volta a fazer-se ouvir vinda do fim do corredor.

- 𝖩𝖺́ 𝖼𝗁𝖾𝗀𝖺𝗌𝗍𝖾.– Hermione nem se esforça para demonstrar qualquer emoção.

- 𝖲𝗂𝗆, 𝗃𝖺́ 𝖼𝗁𝖾𝗀𝗎𝖾𝗂, 𝗉𝗈𝗋𝗊𝗎𝖾̂? 𝖠𝖼𝗁𝖺𝗌 𝗊𝗎𝖾 𝗃𝖺́ 𝗇𝖺̃𝗈 𝖿𝗂𝖼𝗈 𝗍𝖾𝗆𝗉𝗈 𝗌𝗎𝖿𝗂𝖼𝗂𝖾𝗇𝗍𝖾 𝖿𝗈𝗋𝖺 𝖽𝖾 𝖼𝖺𝗌𝖺?– Reclamou William.

- 𝖭𝖺̃𝗈 𝖼𝗈𝗆𝖾𝖼𝖾𝗌.– Travou a voz feminina.

As crianças erguiam agora o olhar com atenção a cada movimento dos dois adultos que pareciam ter trocado o comportamento com aqueles pequenos. Ela começa a servir os pratos mais pequenos e só por fim serve o do marido, por fim, o seu. Contudo, antes de iniciar a sua refeição tira as espinhas do peixe para a Magdalena.

- 𝖮𝗁 𝗆𝖺̃𝖾, 𝗍𝗂𝗋𝖺-𝗆𝖾 𝖺𝗌 𝖾𝗌𝗉𝗂𝗇𝗁𝖺𝗌.– Reclama Lorenzo. – 𝖤𝗎 𝗍𝖺𝗆𝖻𝖾́𝗆 𝗇𝖺̃𝗈 𝗀𝗈𝗌𝗍𝗈 𝖽𝖾 𝗍𝗂𝗋𝖺𝗋!– Acrescenta chateado.

- 𝖳𝗂𝗋𝖺 𝖺 𝗆𝗂𝗆 𝗍𝖺𝗆𝖻𝖾́𝗆!– O Sylas eleva o seu tom enquanto a Fleur apenas revira os olhos com as atitudes dos dois irmãos.

- 𝖢𝖺𝗅𝖺-𝗍𝖾.– Reclama o Manson com o outro irmão.

- 𝖩𝖺́ 𝖼𝗁𝖾𝗀𝖺, 𝖼𝖺𝗋𝖺𝗅𝗁𝗈.– William, bate com a mão na mesa fazendo com que todos voltem a ficar em sentido e começassem a retirar as espinhas do próprio peixe.

Hermione fita William com o olhar e este não se deixa ficar e encara-a do mesmo modo. Desiludida, esta acaba por se sentar no seu lugar, finalmente, e dá início à sua refeição com a devida ponderação assim como os restantes filhos.

...

Após todos terem pousado os seus talheres, as crianças encaram o pai com a devida atenção.

- 𝖣𝖾𝗂𝗑𝖾𝗆-𝗆𝖾 𝖽𝖺 𝗆𝖺̃𝗈, 𝗆𝖾𝗍𝖺𝗆-𝗌𝖾 𝗅𝗈𝗇𝗀𝖾.– Resmungou William sabendo que queriam todos sair da mesa, sendo que, num ápice, todos estavam de pé.

- 𝖵𝖺̃𝗈 𝗅𝖺𝗏𝖺𝗋 𝗈𝗌 𝖽𝖾𝗇𝗍𝖾𝗌, 𝗏𝗂𝗌𝗍𝖺𝗆 𝗈𝗌 𝗉𝗂𝗃𝖺𝗆𝖺𝗌 𝖾 𝖺𝗋𝗋𝗎𝗆𝖾𝗆 𝗈𝗌 𝖻𝗋𝗂𝗇𝗊𝗎𝖾𝖽𝗈𝗌.– Hermione enumerou, como sempre, as tarefas que os filhos tinham que realizar depois de jantar. Aproveitou e levantou-se, também, do seu lugar começando a raspar os pratos e preparou-se para os transportar.

- 𝖣𝖾𝗉𝗈𝗂𝗌 𝗍𝖾𝗆𝗈𝗌 𝖽𝖾 𝖿𝖺𝗅𝖺𝗋.– Proferiu o marido enquanto se levantava para ir buscar o seu digestivo habitual, um copo de whisky.

A Mulher apenas assentiu e apressou-se a levantar a mesa, caminhando de um lado para o outro como uma autêntica barata tonta. Tratou de limpar tudo o que outrora tinha posto na mesa da sala e agora o seu inferno era a cozinha. Enquanto isso, William sentava-se no sofá e via, por alto, o jornal para saber as notícias – mesmo que tal não lhe interessasse genuinamente.

O relógio bateu as 21 horas e 30 minutos. Hermione acabava de dar os últimos retoques na cozinha e apagava agora a luz da divisão.

- 𝖵𝗈𝗎 𝖽𝖾𝗂𝗍𝖺𝗋 𝗈𝗌 𝗆𝖾𝗇𝗂𝗇𝗈𝗌. 𝖣𝖾𝗉𝗈𝗂𝗌 𝖿𝖺𝗅𝖺𝗆𝗈𝗌.– Chutou e não aguardou pela resposta subiu de imediato as escadas e dirigiu-se ao quarto das meninas que estavam a brincar com umas bonecas em cima da cama da Fleur.

- 𝖬𝖾𝗇𝗂𝗇𝖺𝗌, 𝖾𝗌𝗍𝖺́ 𝗇𝖺 𝗁𝗈𝗋𝖺. 𝖴𝗉𝖺.– Falou a mãe ternurenta enquanto abria a cama da Magdalena para que a mesma se fosse deitar.

- 𝖳𝖾𝗆 𝖽𝖾 𝗌𝖾𝗋 𝗃𝖺́, 𝗆𝖺𝗆𝖺̃?– Questionou a mais nova a esfregar freneticamente os olhos.

- 𝖧𝗆𝗁𝗆. 𝖳𝖾𝗆 𝗌𝗂𝗆.– Disse enquanto lhe tirava a boneca da mão e a colocava no sítio. De seguida, agarrou o seu braço para a ajudar a subir para o seu lugar. – 𝖣𝗈𝗋𝗆𝖾 𝖻𝖾𝗆 𝗉𝖾𝗊𝗎𝖾𝗇𝗂𝗇𝖺.– Acrescentou, tapando-a e depositando um beijo na testa da Magdalena.

A Fleur tinha ido guardar a própria boneca e fazia o processo todo sozinha. Contudo, por muito independente que fosse, não dispensava o seu beijo de boa noite, que foi dado mal se tapou e se deitou.

- 𝖣𝗎𝗋𝗆𝖺𝗆 𝖻𝖾𝗆.– Proferiu a mão antes de apagar a luz e deixar a porta entreaberta, de modo, a terem alguma ligação com o exterior do quarto, visto que nenhuma das duas gostava de dormir de porta fechada. O próximo destino era o quarto dos rapazes que, por estranho que parecesse, já estavam deitados.

- 𝖤𝗌𝗍𝖺́ 𝗍𝗎𝖽𝗈 𝖻𝖾𝗆, 𝗋𝖺𝗉𝖺𝗓𝖾𝗌?– Questionou enquanto aconchegava os cobertores ao Sylas.

- 𝖲𝗂𝗆, 𝗆𝖺̃𝖾. 𝖬𝖺𝗌 𝗇𝗈́𝗌 𝖺𝖼𝗁𝖺𝗆𝗈𝗌 𝗊𝗎𝖾 𝗍𝗎 𝗇𝖺̃𝗈 𝖾𝗌𝗍𝖺́𝗌 𝖿𝖾𝗅𝗂𝗓.– Chutou o Lorenzo com a cabeça a ser apoiada contra a sua mão.

- 𝖤 𝗉𝗈𝗋𝗊𝗎𝖾 𝖾́ 𝗊𝗎𝖾 𝗍𝗎 𝗉𝖾𝗇𝗌𝖺𝗌 𝗂𝗌𝗌𝗈?– Fitou intrigada com a questão do filho.

- 𝖯𝗈𝗋𝗊𝗎𝖾 𝗍𝗎 𝗇𝖺̃𝗈 𝗌𝗈𝗋𝗋𝗂𝗌. 𝖯𝖾𝗅𝗈 𝗆𝖾𝗇𝗈𝗌, 𝗊𝗎𝖺𝗇𝖽𝗈 𝗈 𝗉𝖺𝗂 𝖼𝗁𝖾𝗀𝖺 𝖺 𝖼𝖺𝗌𝖺.– Respondeu sincero o primogénito.

- 𝖭𝖺̃𝗈 𝗉𝖾𝗇𝗌𝖾𝗌 𝗇𝗂𝗌𝗌𝗈, 𝖾𝗎 𝗌𝗈𝗎 𝗆𝗎𝗂𝗍𝗈 𝖿𝖾𝗅𝗂𝗓. 𝖳𝖾𝗇𝗁𝗈 𝗈𝗌 𝗆𝖾𝗅𝗁𝗈𝗋𝖾𝗌 𝖿𝗂𝗅𝗁𝗈𝗌 𝖽𝗈 𝗆𝗎𝗇𝖽𝗈.– Sorriu doce e apertou o nariz ao Sylas, visto que tinha ficado encostada à cama dele, durante o curto diálogo. – 𝖠𝗀𝗈𝗋𝖺 𝖾́ 𝗁𝗈𝗋𝖺 𝖽𝖾 𝖽𝗈𝗋𝗆𝗂𝗋.– Acrescentou indo em direção ao Lorenzo e depositando o beijo de boa noite no topo da cabeça dele. – 𝖳𝗎 𝗏𝖺𝗂𝗌 𝗆𝗎𝖽𝖺𝗋 𝗈 𝗆𝗎𝗇𝖽𝗈.– Sussurrou com os lábios encostados à testa do pequeno. Acabou, então, por se afastar e desligou a luz do quarto dos rapazes deixando esta porta também entreaberta, mas por segurança, visto que nunca se sabia o que esperar desta dupla.

Hermione, desce então as escadas e o marido continua exatamente no mesmo sítio, mas ela sabia que ele já se tinha levantado inúmeras vezes para ir atestar o copo que tinha na mão.

- 𝖰𝗎𝖾𝗋𝗂𝖺𝗌 𝖿𝖺𝗅𝖺𝗋 𝖼𝗈𝗆𝗂𝗀𝗈. 𝖣𝖾𝗌𝗉𝖺𝖼𝗁𝖺-𝗍𝖾, 𝗊𝗎𝖾𝗋𝗈 𝗂𝗋 𝖽𝗈𝗋𝗆𝗂𝗋. 𝖠𝗆𝖺𝗇𝗁𝖺̃ 𝖾𝗇𝗍𝗋𝗈 𝖼𝖾𝖽𝗈.– Declarou mostrando a pouca paciência, ou aquela que ele ainda lhe deixava. O interessado ergueu-se do sofá e caminhou até ela. – 𝖤𝗎 𝖽𝗈𝗎-𝗍𝖾 𝗍𝗎𝖽𝗈 𝖺𝗊𝗎𝗂𝗅𝗈 𝗊𝗎𝖾 𝗍𝗎 𝗊𝗎𝖾𝗋𝖾𝗌. 𝖳𝗋𝖺𝖻𝖺𝗅𝗁𝗈 𝗊𝗎𝖾 𝗇𝖾𝗆 𝗎𝗆 𝖾𝗌𝖼𝗋𝖺𝗏𝗈 𝗉𝖺𝗋𝖺 𝗍𝗎 𝗍𝖾𝗋𝖾𝗌 𝗍𝗎𝖽𝗈 𝖽𝗈 𝖻𝗈𝗆 𝖾 𝖽𝗈 𝗆𝖾𝗅𝗁𝗈𝗋. 𝖲𝗎𝗌𝗍𝖾𝗇𝗍𝗈 𝖾𝗌𝗍𝖾𝗌 𝗉𝗂𝗋𝗋𝖺𝗅𝗁𝗈𝗌. 𝖯𝖺𝗌𝗌𝗈 𝗎𝗆 𝗍𝗈𝗍𝖺𝗅 𝖽𝖾 𝟨 𝗁𝗈𝗋𝖺𝗌 𝗉𝗈𝗋 𝖽𝗂𝖺 𝖾𝗆 𝖼𝖺𝗌𝖺, 𝗌𝖾𝗇𝖽𝗈 𝗊𝗎𝖾 𝗆𝖾𝗍𝖺𝖽𝖾 𝖾́ 𝗉𝖺𝗋𝖺 𝖽𝗈𝗋𝗆𝗂𝗋. 𝖤 𝗍𝗎 𝖺𝖼𝗁𝖺𝗌 𝗊𝗎𝖾 𝗍𝖾𝗇𝗌 𝗈 𝖽𝗂𝗋𝖾𝗂𝗍𝗈 𝖽𝖾 𝗆𝖾 𝖿𝖺𝗅𝖺𝗋 𝖺𝗌𝗌𝗂𝗆?– Falava agora a milímetros dela.

- 𝖤𝗎 𝖿𝖺𝗅𝗈 𝖼𝗈𝗆𝗈 𝗊𝗎𝖾𝗋𝗈. 𝖲𝖾 𝗍𝗎 𝖿𝖺𝗅𝖺𝗌, 𝖾𝗎 𝗇𝖺̃𝗈 𝗉𝗈𝗌𝗌𝗈 𝗉𝗈𝗋𝗊𝗎𝖾̂?– Indagou destemidamente.

Ele agarrou no pescoço dela, com a mão que não agarrava o maldito copo e apertou o mesmo enquanto a fazia caminhar em sentido inverso. – 𝖤𝗎 𝗌𝗈𝗎 𝗈 𝗍𝖾𝗎 𝗆𝖺𝗋𝗂𝖽𝗈. 𝖳𝗎 𝖾́𝗌 𝗆𝗂𝗇𝗁𝖺, 𝖿𝖺𝗓𝖾𝗌 𝖺 𝗆𝖾𝗋𝖽𝖺 𝗊𝗎𝖾 𝖾𝗎 𝗊𝗎𝖾𝗋𝗈.– Falou agora num tom mais alto, mais rude e os seus arremessos eram agressivos e assustadores. Portanto, pousou o copo com brutalidade na cômoda que estava diante os dois.

- 𝖶𝗂𝗅𝗅𝗂𝖺𝗆, 𝖾𝗎 𝖺𝗆𝗈-𝗍𝖾. 𝖬𝖺𝗌 𝗍𝗎 𝖾𝗌𝗍𝖺́𝗌 𝖼𝖺𝖽𝖺 𝗏𝖾𝗓 𝗆𝖺𝗂𝗌 𝖻𝗋𝗎𝗍𝗈. 𝖤𝗎 𝗇𝖺̃𝗈 𝗍𝖾 𝗋𝖾𝖼𝗈𝗇𝗁𝖾𝖼̧𝗈. 𝖤𝗎 𝗍𝖺𝗆𝖻𝖾́𝗆 𝗍𝗋𝖺𝖻𝖺𝗅𝗁𝗈 𝗉𝖺𝗋𝖺 𝗉𝗈𝗋 𝖽𝗂𝗇𝗁𝖾𝗂𝗋𝗈…– A Mulher tenta justificar-se, com algum custo devido ao seu pescoço estar a ser apertado pela mão do marido, que não perdeu tempo a dar-lhe uma estalada na face, de modo a que esta simplesmente se calasse.

A expressão que deveria de ser de choque, de reação, mostrava apenas apatia. Já não era a primeira vez que este era o cenário da casa, muito pelo contrário. Era mais comum do que aquilo que se podia imaginar. O tom de voz, fez despertar a curiosidades dos dois pequenos jovens que estavam a tentar dormir no quarto em cima. Se o entusiasmo pelo aniversário do mais velho já os empolgava, o rumo que a conversa dos pais estava a tomar deixou-os totalmente ativos. Pelo que saltaram de imediato da cama, correram para o corredor, colocaram-se a jeito nas escadas e começaram a tentar obter a percepção do que estava a decorrer, guiando-se apenas pelas sombras e pelos reflexos. A Hermione já nem encarava o Homem ao qual chamava marido, apenas se deixou ficar, naquele aperto entre ele e a parede.

- 𝖲𝖺𝖻𝖾𝗌? 𝖲𝗈́ 𝗌𝖾𝗋𝗏𝖾𝗌 𝗉𝖺𝗋𝖺 𝖼𝗎𝗂𝖽𝖺𝗋 𝖽𝗈𝗌 𝖿𝖾𝖽𝖾𝗅𝗁𝗈𝗌 𝖾 𝗉𝖺𝗋𝖺 𝖿𝗈𝖽𝖾𝗋. 𝖲𝖾 𝖻𝖾𝗆 𝗊𝗎𝖾, 𝗃𝖺́ 𝗇𝖾𝗆 𝖿𝗈𝖽𝖾𝗋 𝗌𝖾𝗋𝗏𝖾𝗌. 𝖮𝗇𝖽𝖾 𝖾𝗌𝗍𝖺́ 𝖺 𝗉𝗎𝗍𝖺 𝗊𝗎𝖾 𝗆𝖾 𝗆𝗈𝗇𝗍𝖺𝗏𝖺? 𝖰𝗎𝖾 𝗆𝖾 𝖼𝗁𝗎𝗉𝖺𝗏𝖺 𝗍𝗈𝖽𝗈𝗌 𝗈𝗌 𝖽𝗂𝖺𝗌 𝗊𝗎𝖺𝗇𝖽𝗈 𝖾𝗎 𝖼𝗁𝖾𝗀𝖺𝗏𝖺 𝖺 𝖼𝖺𝗌𝖺? 𝖳𝗎 𝖾́𝗌 𝗎𝗆𝖺 𝗆𝖾𝗋𝖽𝖺, 𝖧𝖾𝗋𝗆𝗂𝗈𝗇𝖾.– Ele cuspia tais palavras na cara da Mulher e começava a passar a mão pelo seu ventre, descendo-a para a sua intimidade por cima do vestido que a mesma envergava.

- 𝖯𝖺́𝗋𝖺 𝗊𝗎𝗂𝖾𝗍𝗈.– Ela sussurrou enquanto uma singela lágrima lhe escapou pelo canto do olho.

- 𝖠 𝖼𝗁𝗈𝗋𝖺𝗋? 𝖭𝖺̃𝗈 𝗉𝗋𝖾𝖼𝗂𝗌𝖺𝗌, 𝖾𝗎 𝖿𝗈𝖽𝗈-𝗍𝖾. 𝖤𝗎 𝗆𝗈𝗌𝗍𝗋𝗈-𝗍𝖾 𝖺𝗊𝗎𝗂𝗅𝗈 𝗊𝗎𝖾 𝗃𝖺́ 𝗇𝖺̃𝗈 𝗌𝖺𝖻𝖾𝗌 𝖿𝖺𝗓𝖾𝗋.– Murmurou o William enquanto lhe começava a beijar o pescoço e a fazer uns ligeiros chupões no mesmo.

O momento que se seguiu foi mais uma réplica do dia a dia daquela família; nada de novo. Ele pegou nela, levou-a para a mesa de jantar, tirou-lhe o vestido e começou a consumi-la como se de uma autêntica puta se tratasse. A brutalidade era a moeda dele, enquanto ela estava ali, apenas frágil, deitada, à mercê dele. Não se ouviam nem gritos, nem gemidos, talvez ligeiros grunhidos, mas, até isso, ele não gostava de ouvir dela, pelo que lhe tapou a boca. As marcas iriam ficar em todo o seu corpo, porque a força que esta mulher outrora tivera, desaparecera ao longo dos anos. Depois de descobrir que tinha sido traída – dessa traição surgiu a Magdalena que amava como se fosse filha dela –, depois de todas as agressões, palavrões, desvalorizações. Para Hermione, apenas os filhos justificam o facto dela se sujeitar àquilo que atualmente sujeitara; e esses, estavam a assistir de perto a um filme pornográfico onde os integrantes eram os seus pais e o enredo não era o mais feliz.

Sylas e Lorenzo cruzaram o olhar, cheios de lágrimas, abraçaram-se devido a toda a incapacidade que estavam a sentir naquele momento. Eles sabiam que tinham de fazer algo, não podiam deixar que isto se repetisse, as irmãs não tinham que crescer a ver isto, muito menos a mãe tinha de passar por isto; ela não tinha de ser infeliz. Os dois irmãos ergueram-se do chão gélido e arrastaram-se para o quarto, deitaram-se os dois na mesma cama, em silêncio, enquanto as lágrimas escorriam de forma avulsada.

- 𝖲𝗒𝗅𝖺𝗌.– Chamou o Lorenzo depois de se acalmar.

- 𝖲-𝗌𝗂𝗆.– Soluçou o pequeno diante o irmão que considerava um ídolo.

- 𝖮 𝗊𝗎𝖾 𝗏𝖺𝗆𝗈𝗌 𝖿𝖺𝗓𝖾𝗋?– Encara-o.

Sylas cerra o seu punho e respira fundo durante alguns momentos, ambos tinham problemas de raiva, mas o Sylas, por vezes, conseguia ser mais impulsivo, mais desmiolado do que o irmão.

- 𝖯𝗈𝗋 𝗆𝗂𝗆, 𝗉𝖾𝗀𝖺́𝗏𝖺𝗆𝗈𝗌 𝖿𝗈𝗀𝗈 𝖺 𝗂𝗌𝗍𝗈 𝗍𝗎𝖽𝗈 𝖾 𝖺𝗊𝗎𝖾𝗅𝖾 𝖼𝖺𝖻𝗋𝖺̃𝗈 𝗆𝗈𝗋𝗋𝗂𝖺.– Murmurou com toda a veracidade e genuinidade que uma criança pode ter. Enquanto Lorenzo apenas suspira e respira fundo antes de responder

- 𝖤𝗌𝗍𝗈𝗎 𝖽𝖾 𝖺𝖼𝗈𝗋𝖽𝗈.– Acabou por admitir. – 𝖤́ 𝗁𝗈𝗃𝖾.– Decidiu.

Sylas olhou-o, não estava à espera que o irmão alinhasse. Costumavam fazer merda juntos, de todo o tipo, mas, normalmente, o irmão mais velho conseguia ter planos melhores do que os dele, no ponto em que eram mais elaborados e inteligentes. Mas o facto de ter tido uma ideia genial, aos olhos do seu ídolo, encheu-lhe o coração e o ego; foi inundado de coragem e saltou da cama, de imediato. Caminhou até ao armário, tirou uma mochila do mesmo e colocou lá a roupa dele e do irmão, as que achava mais giras e aquelas que tinha mais estima. O Lorenzo ficou deitado, ainda estava a alinhar nas ideias, como sempre, o mais ponderado, dentro do possível.

- 𝖳𝗈𝗆𝖺, 𝗏𝖺𝗂 𝖻𝗎𝗌𝖼𝖺𝗋 𝗋𝗈𝗎𝗉𝖺 𝖽𝖺𝗌 𝗆𝖺𝗇𝖺𝗌.– Sylas estendeu outra mochila ao irmão, uma para eles, outra para as irmãs, foi o que pensou.

- 𝖤𝗎 𝗃𝖺́ 𝗏𝗈𝗎, 𝖽𝖾𝗂𝗑𝖺-𝗈𝗌 𝗌𝖺𝗂́𝗋𝖾𝗆 𝖽𝖺 𝗌𝖺𝗅𝖺 𝖾 𝗂𝗋𝖾𝗆 𝖽𝗈𝗋𝗆𝗂𝗋. 𝖳𝖾𝗆𝗈𝗌 𝖽𝖾 𝖿𝖺𝗓𝖾𝗋 𝗍𝗎𝖽𝗈 𝖻𝖾𝗆, 𝗇𝖺̃𝗈 𝗊𝗎𝖾𝗋𝖾𝗆𝗈𝗌 𝗇𝖾𝗇𝗁𝗎𝗆 𝖺𝖼𝗂𝖽𝖾𝗇𝗍𝖾.– Ralhou e o irmão acatou com atenção, deixou a mochila praticamente pronta no chão e sentou-se na própria cama a olhar para a janela que tinha pequenas fontes de luz que vinham do exterior.

- 𝖲𝗒𝗅𝖺𝗌, 𝖽𝖾𝗌𝖼𝖺𝗇𝗌𝖺 𝗎𝗆 𝖻𝗈𝖼𝖺𝖽𝗈. 𝖲𝖺𝖻𝖾𝗌 𝗊𝗎𝖾 𝗏𝖺𝗂 𝖽𝖾𝗆𝗈𝗋𝖺𝗋 𝖾 𝗌𝖾 𝗏𝖺𝗆𝗈𝗌 𝗆𝖾𝗌𝗆𝗈 𝖿𝖺𝗓𝖾𝗋 𝗂𝗌𝗍𝗈, 𝗍𝖾𝗆𝗈𝗌 𝖽𝖾 𝖽𝖾𝗌𝖼𝖺𝗇𝗌𝖺𝗋 𝗎𝗆 𝗉𝗈𝗎𝖼𝗈.– Aconselhou o Lorenzo percebendo a ansiedade do irmão mais novo e, por esse motivo, estava abruptamente a controlar a sua. O mais novo voltou a respeitar e deitou-se.

...

O relógio da casa tocou a marcar as 23 horas e 30 minutos. Os irmãos que tinham acabado por cair no sono devido ao misto de emoções que outrora tinham sentido, acabaram por acordar com o som que ecoou pela casa.

- 𝖲𝗒𝗅𝖺𝗌.– Chamou o primogénito.

- 𝖤𝗌𝗍𝗈𝗎 𝖺𝗊𝗎𝗂.– Disse a esfregar os olhos.

- 𝖤́ 𝖺𝗀𝗈𝗋𝖺.– Começou a levantar-se e calçou os seus ténis de eleição.

- 𝖩𝖺́ 𝗏𝖺𝗆𝗈𝗌 𝗍𝖺𝗋𝖽𝖾.– Proferiu e apressou-se a acompanhar o irmão.

Ambos, já calçados e com as mochilas às costas – sendo que uma estava vazia e outra cheia –, dirigiram-se ao quarto da frente e o Lorenzo começou a acordar a pequena Magdalena com abanões ligeiros e palavras doces, enquanto isso o Sylas abanou a Fleur freneticamente.

- 𝖠𝖼𝗈𝗋𝖽𝖺.– Disse rude enquanto fazia um batido de Fleur.

- 𝖰𝗎𝖾 𝖾́?– Perguntou a irmã mais velha sobressaltada e num tom elevando. O Sylas não perdeu tempo em lançar a mão à boca dela para que esta se calasse.

- 𝖲𝗁.– Em coro os dois irmãos mandaram a loira calar. Atentamente, e de boca tapada, Fleur olha para os dois com uma expressão confusa.

- 𝖩𝖺́ 𝖾𝗑𝗉𝗅𝗂𝖼𝖺𝗆𝗈𝗌 𝗍𝗎𝖽𝗈.– Disse o Lorenzo ainda tentando acordar a mais nova. – 𝖲𝗒𝗅𝖺𝗌, 𝖾𝗅𝖺 𝗇𝖺̃𝗈 𝖺𝖼𝗈𝗋𝖽𝖺.– Queixou-se e trocaram os dois, sendo que o mais velho explicou o plano à mais velha e o mais novo tentava a manobra para acordar a mais nova.

- 𝖮𝗁 𝖬𝖺𝗀𝖽𝖺𝗅𝖾𝗇𝖺.– Proferiu frustrado enquanto a abanava levemente para que esta não tivesse a mesma reação que a sua última tentativa.

- 𝖤𝗎 𝗊𝗎𝖾𝗋𝗈 𝖽𝗈𝗋𝗆𝗂𝗋.– Murmurou e voltou-se para o outro lado.

Os dois irmãos olharam um para o outro e deram de ombros. O Sylas tirou a mochila vazia das suas costas e começou a meter roupa das irmãs dentro da mesma e o Lorenzo ajudava a Fleur a perceber tudo, encarregando-a de tomar conta da Magdalena sempre. Inclusivamente, obrigou-a a conseguir acordá-la.

- 𝖣𝖺𝗊𝗎𝗂 𝖾𝗌𝗍𝖺́ 𝗍𝗎𝖽𝗈.– Declarou o Sylas, pondo a mochila às costas e preparando-se para sair do quarto. – 𝖤𝗎 𝗏𝗈𝗎 𝖺𝖼𝗈𝗋𝖽𝖺𝗋 𝖺 𝗆𝖺̃𝖾.– Informou antes de sair e os olhos do outro irmão quase saíram da sua face, as mãos foram levadas à cabeça e um suspiro de derrota escapou pelos lábios da criança.

– 𝖤𝗅𝖾 𝗏𝖺𝗂 𝖺𝖼𝗈𝗋𝖽𝖺𝗋 𝗈 𝗉𝖺𝗂 𝗍𝖺𝗆𝖻𝖾́𝗆.– Declarou o Lorenzo depois de ter assistido às tentativas com as irmãs.

No quarto ao lado, Hermione estava a receber festinhas do filho que entrara em pés de lã e ficara de joelhos junto da cama. A mão pequena dele, estava pousada na face da desgastada mulher que só tinha efetivamente descanso quando dormia. A pena que ele sentia por a estar a acordar estava a corroer-lhe o coração, mesmo que ele não soubesse muito bem qual era o sentimento em causa, apenas sabia que ela merecia ter um sono descansado perante tudo o que passava.

Após algumas festinhas a reação foi adquirida. A mãe estava tão pouco habituada a receber carinho e amor naquelas paredes que o despertar foi praticamente imediato, creio que ficou indecisa se era um sonho ou a realidade.

Sylas fez-lhe sinal para vir consigo e não fazer barulho; apesar de bastante confusa, ela não negou acompanhar o filho para tentar perceber em que o podia ajudar. Ele deu-lhe a mão e puxou-a com ele, porém, antes de sair do quarto, pegou nuns sapatos dela.

...

A Fleur acordava a Magdalena, o Sylas acordava a Manson. Portanto, o Lorenzo decidiu começar a por as ideias anteriormente discutidas em prática. Na cozinha começou por ligar os bicos do fogão – ele recordava-se que o Sylas tinha conseguido fogo ao fazer aquilo outrora –, procurou isqueiros pela casa – para tal, subiu para cima de bancos, bancadas e afins, ele sabia que a mão jamais iria facilitar o acesso depois do incidente.

- 𝖲𝗒𝗅𝖺𝗌, 𝗉𝗈𝖽𝖾𝗌 𝖾𝗑𝗉𝗅𝗂𝖼𝖺𝗋-𝗆𝖾?– Perguntava Hermione que descia as escadas com o mais novo ainda bastante confusa com todas as atitudes que ele estava a tomar.

- 𝖭𝖺̃𝗈 𝗍𝖾 𝗉𝗋𝖾𝗈𝖼𝗎𝗉𝖾𝗌, 𝗆𝖺̃𝖾. 𝖵𝖺𝗆𝗈𝗌 𝖼𝗎𝗋𝖺𝗋 𝗈 𝗍𝖾𝗎 𝖼𝗈𝗋𝖺𝖼̧𝖺̃𝗈.– Parou depois de falar abraçou a cintura da mãe. – 𝖠𝗉𝖾𝗇𝖺𝗌 𝖿𝖺𝗓 𝗈 𝗊𝗎𝖾 𝖾𝗎 𝖾 𝗈 𝗆𝖺𝗇𝗈 𝖽𝗂𝗌𝗌𝖾𝗋𝗆𝗈𝗌, 𝖿𝗂𝖼𝖺 𝖺𝗊𝗎𝗂.– Proferiu e deixou a mãe na entrada indo à cozinha ver como estava o Lorenzo.

- 𝖤𝗇𝖼𝗈𝗇𝗍𝗋𝖾𝗂!– Exclamou o Lorenzo enquanto saltava para o chão, estendendo um dos isqueiros ao Sylas. – 𝖫𝗂𝖻𝖾𝗋𝗍𝖺-𝗍𝖾.– Sorriu olhando os olhos do irmão que parecia ter sido ligado com aquelas palavras.

A cozinha é evacuada, o cheio do gás já se começava a fazer sentir e a Fleur já estava a descer com a Magdalena pela mão, a ser totalmente arrastada e a mala correspondente aos essenciais pertences da mãe às costas.

- 𝖬𝖺𝗆𝖺̃.– Choramingou e foi a correr para as pernas da mãe. – 𝖤𝗅𝖾𝗌 𝗇𝖺̃𝗈 𝗆𝖾 𝖽𝖾𝗂𝗑𝖺𝗆 𝗆𝗂𝗆𝗂𝗋.– Queixou-se com os olhos entreabertos. Hermione não perdeu tempo em pegá-la ao colo e deixá-la descansar no seu ombro.

O Sylas foi a correr dar outro isqueiro à sua outra irmã, sem a mãe ver e piscou-lhe o olho.

- 𝖰𝗎𝖾 𝗌𝖾𝗃𝖺 𝗈 𝗊𝗎𝖾 𝖣𝖾𝗎𝗌 𝗊𝗎𝗂𝗌𝖾𝗋.– Sussurrou a mãe enquanto observava tudo à sua volta e se preparava para esperar lá fora como Lorenzo lhe havia indicado.

Assim, com a irmã mais nova em segurança e a mãe, os três filhos mais velhos deram início ao plano. O Sylas optou por subir as escadas e tratou do andar de cima, ele sabia que podia começar a pegar em tudo o que era tecido, portanto, no próprio quarto atacou: cortinados, lençóis e as suas peças de roupa; fez o mesmo no quarto das irmãs, na casa de banho fez às toalhas e, por fim, foi ao quarto do pai e fez apenas nos cortinados. Por outro lado, o Lorenzo tratou da sala e a Fleur tentou pegar fogo a uma toalha na casa de banho do andar de baixo, mas acabou por sair de casa a correr para ir ter com a mãe, visto que, tal atitude não era, de todo, algo seu.

Num ápice, Sylas desce as escadas a correr, sendo que Lorenzo aguardava no final das mesmas, o andar de cima estava tratado e o de baixo também. No momento em que os dois irmãos se cruzam, ouve-se o relógio a tocar. Era meia noite. Um sorriso aparece no rosto do Sylas que não perde tempo a enrolar os braços em torno do seu ídolo.

- 𝖯𝖺𝗋𝖺𝖻𝖾́𝗇𝗌, 𝗆𝖾𝗎 𝗂𝗋𝗆𝖺̃𝗈! 𝖤𝗎 𝗀𝗈𝗌𝗍𝗈 𝖽𝖾 𝗍𝗂.– Sussurrou, com alguma dificuldade, ao ouvido do irmão que o abraçava com a mesma força.

– 𝖵𝖺𝗆𝗈𝗌 𝗌𝖺𝗂𝗋 𝖽𝖺𝗊𝗎𝗂 𝖾 𝖽𝖺𝗋 𝖺 𝖾𝗌𝗍𝖺 𝖿𝖺𝗆𝗂́𝗅𝗂𝖺 𝗈 𝗊𝗎𝖾 𝗆𝖾𝗋𝖾𝖼𝖾𝗆: 𝖿𝖾𝗅𝗂𝖼𝗂𝖽𝖺𝖽𝖾.– Respondeu o aniversariante que fazia nesse dia, 𝟏𝟑 𝒅𝒆 𝒐𝒖𝒕𝒖𝒃𝒓𝒐, 𝟏𝟐 𝒂𝒏𝒐𝒔. Os irmãos afastaram-se e correram para fora de casa, tentando, ainda assim, fazer o mínimo barulho possível em cada movimento até a fechar a porta de casa. Guardaram os isqueiros religiosamente nos bolsos e correram para perto da sua mãe e das suas irmãs que estavam a observar o fumo que começava a sair para o exterior da casa.

Hermione estava incrédula, não acreditava que tinha sido capaz de alinhar nesta loucura dos próprios filhos, como é que ia fugir assim, sem mais nem menos. E se o marido acordava e a apanhava?

- 𝖬𝖾𝗇𝗂𝗇𝗈𝗌, 𝗉𝗈𝗋𝗊𝗎𝖾 𝖾́ 𝗊𝗎𝖾 𝗁𝖺́ 𝗍𝖺𝗇𝗍𝗈 𝖿𝗎𝗆𝗈?– Perguntou a mãe totalmente confusa. – 𝖫𝗈𝗋𝖾𝗇𝗓𝗈, 𝗈 𝗊𝗎𝖾 𝖾́ 𝗊𝗎𝖾 𝖾𝗌𝗍𝖺́ 𝖺 𝖺𝖼𝗈𝗇𝗍𝖾𝖼𝖾𝗋?– Indagou em total pânico. Os rapazes abraçaram a mãe e começaram a puxá-la dali, eles sabiam que tinham de sair o quanto antes. – 𝖵-𝗏𝗈𝖼𝖾̂𝗌 𝗍𝖾̂𝗆 𝖽𝖾 𝗆𝖾 𝖾𝗑𝗉𝗅𝗂𝖼𝖺𝗋!– Exigiu revoltada e já com as lágrimas nos olhos. – 𝖭𝗈́𝗌 𝗌𝗈́ 𝗂́𝖺𝗆𝗈𝗌 𝖿𝗎𝗀𝗂𝗋! 𝖠𝗀𝗈𝗋𝖺 𝗍𝖾𝗇𝗁𝗈 𝖺 𝖼𝖺𝗌𝖺 𝖺 𝖽𝖾𝗂𝗍𝖺𝗋 𝖿𝗎𝗆𝗈 𝗉𝗈𝗋 𝗍𝗈𝖽𝗈 𝗈 𝗅𝖺𝖽𝗈?– Falava totalmente desorientada, com o sistema nervoso a dar umas quantas voltas. – 𝖤𝗎 𝗍𝖾𝗇𝗁𝗈 𝖽𝖾 𝗏𝗈𝗅𝗍𝖺𝗋 𝗅𝖺́ 𝗉𝖺𝗋𝖺 𝖽𝖾𝗇𝗍𝗋𝗈. 𝖮 𝗏𝗈𝗌𝗌𝗈 𝗉𝖺𝗂 𝗏𝖺𝗂 𝗆𝗈𝗋𝗋𝖾𝗋 𝖺𝗅𝗂!– Começou a tremer por todo o lado e a avançar para junto da casa.

- 𝖬𝖺̃𝖾, 𝗍𝗎 𝖽𝗂𝗌𝗌𝖾𝗌𝗍𝖾 𝗊𝗎𝖾 𝖾𝗎 𝗇𝖺̃𝗈 𝖽𝖾𝗏𝗂𝖺 𝖽𝖾 𝖻𝗋𝗂𝗇𝖼𝖺𝗋 𝖼𝗈𝗆 𝗈 𝖿𝗈𝗀𝗈 𝗉𝗈𝗋𝗊𝗎𝖾 𝖾𝗅𝖾 𝖾́ 𝗆𝖺𝗎 𝖾 𝖼𝖺𝗎𝗌𝖺 𝖽𝗈𝗋. 𝖮 𝗉𝖺𝗂 𝖾́ 𝗆𝖺𝗎 𝖾 𝖼𝖺𝗎𝗌𝖺-𝗍𝖾 𝖽𝗈𝗋, 𝗇𝖺̃𝗈 𝗊𝗎𝖾𝗋𝗈 𝗊𝗎𝖾 𝖻𝗋𝗂𝗇𝗊𝗎𝖾𝗌 𝗆𝖺𝗂𝗌 𝖼𝗈𝗆 𝖾𝗅𝖾. 𝖤𝗅𝖾 𝗏𝖺𝗂-𝗍𝖾 𝗆𝖺𝗀𝗈𝖺𝗋.– Respondeu finalmente o Lorenzo fazendo imensa força, em conjunto com o Sylas, para que a progenitora se movimentasse na direção que eles queriam.

– 𝖯𝖺𝗋𝖺 𝗈𝗇𝖽𝖾 𝗏𝖺𝗆𝗈𝗌?– Questionou aos homens da família, enquanto se começava a arrastar no sentido pretendido. – 𝖤𝗎 𝗇𝖺̃𝗈 𝗌𝖾𝗂 𝖼𝗈𝗆𝗈 𝗏𝗈𝖼𝖾̂𝗌 𝖿𝗈𝗋𝖺𝗆 𝖼𝖺𝗉𝖺𝗓𝖾𝗌. 𝖮 𝗊𝗎𝖾 𝗏𝗈𝗌 𝗉𝖺𝗌𝗌𝗈𝗎 𝗉𝖾𝗅𝖺 𝖼𝖺𝖻𝖾𝖼̧𝖺? 𝖤𝗎 𝗇𝖺̃𝗈 𝗉𝖾𝗋𝖼𝖾𝖻𝗈.– Dizia incrédula, esperando agora, mais que nunca, um plano mais completo do que o que ele realmente estava.

Ambos cruzaram os olhares e o pânico instalou-se, não tinham pensado assim tão bem no que ocorreria depois de incendiarem a casa. Contudo, ao encararem a mãe, o foco parou na Magdalena que tinha a cabeça no ombro da mesma. Um sorriso apareceu nos rostos de ambos, mas não precisaram de falar, ao voltarem a olhar um para o outro, perceberam que tinham tido a mesma ideia.

- 𝖵𝖺𝗆𝗈𝗌 𝗉𝖺𝗋𝖺 𝗈 𝖺𝖾𝗋𝗈𝗉𝗈𝗋𝗍𝗈.– Indicou Lorenzo e continuou o seu caminho o melhor que sabia para a praça de táxis mais próxima. A mãe continua a questionar-se, como é que estas crianças tinham chegado a este plano, como é que tudo tinha surgido, o que é que eles percebiam, efetivamente, destas situações. De facto, ela só sabia duas coisas: os filhos eram o mais importante e não queria voltar a vê-lo na sua vida. O misto de sentimentos dentro de si era mais do que complexo; estava aliviada por ter fugido da sua prisão, mas, ao mesmo tempo, tinha sido de uma forma demasiado macabra, brusca.

- 𝖬𝖺̃𝖾, 𝗉𝗋𝖾𝖼𝗂𝗌𝗈 𝗊𝗎𝖾 𝗅𝗂𝗀𝗎𝖾𝗌 𝖺̀ 𝗆𝖺̃𝖾 𝖽𝖺 𝖬𝖺𝗀𝖽𝖺𝗅𝖾𝗇𝖺.– Interrompe o pensamento da Hermione ao cruzar a esquina da rua e nesse exato momento, ouve-se a explosão a ocorrer.

Todos pararam. O Lorenzo espreitou pela esquina e não viu ninguém sair do portão, olhou para toda a família – estavam todos bem. Pegou na mão da mãe e da irmã e começou a puxá-las num passo apressado. A Fleur dá o telemóvel à mãe e esta tenta fazer a chamada em questão parecer normal.

- 𝖡𝗈𝖺 𝗇𝗈𝗂𝗍𝖾. 𝖣𝖾𝗌𝖼𝗎𝗅𝗉𝖺 𝖺𝗌 𝗁𝗈𝗋𝖺𝗌, 𝗌𝖾𝗂 𝗊𝗎𝖾 𝖾𝗌𝗍𝖺𝗏𝖺𝗌 𝖺 𝖽𝗈𝗋𝗆𝗂𝗋, 𝗆𝖺𝗌 𝗉𝗋𝖾𝖼𝗂𝗌𝗈 𝗆𝖾𝗌𝗆𝗈 𝖽𝖺 𝗍𝗎𝖺 𝖺𝗃𝗎𝖽𝖺.– Falou com um tremor na voz. – 𝖭𝗈́𝗌 𝖿𝗎𝗀𝗂𝗆𝗈𝗌 𝖽𝖾 𝖼𝖺𝗌𝖺, 𝗉𝗋𝖾𝖼𝗂𝗌𝖺𝗆𝗈𝗌 𝖽𝖾 𝗌𝖺𝗂𝗋 𝖽𝖺 𝖼𝗂𝖽𝖺𝖽𝖾. 𝖠𝖼𝗁𝖺𝗌...– Foi interrompida pela voz ao telemóvel. – 𝖲𝗂𝗆, 𝗇𝖺̃𝗈 𝗁𝖺́ 𝗆𝖾𝗌𝗆𝗈 𝗉𝗋𝗈𝖻𝗅𝖾𝗆𝖺?– Questionou com medo. – 𝖵𝖺𝗆𝗈𝗌 𝖺𝗉𝖺𝗇𝗁𝖺𝗋 𝗃𝖺́ 𝗈 𝖺𝗏𝗂𝖺̃𝗈. 𝖬𝗎𝗂𝗍𝗈 𝗈𝖻𝗋𝗂𝗀𝖺𝖽𝖺.– Declarou com uma voz desesperada e a puxar o choro que saia sem parar.

Eles correram, juntos, até ao primeiro táxi que lhes passou diante os olhos. O medo era real, Hermione não sabia o que pensar, como reagir; mas, mesmo assim, os filhos tinham razão. Ela tinha de se libertar do que a magoava. O próximo destino era bem longe dali, quer estivesse morto ou vivo, ainda iria demorar a encontrá-los; aliás, talvez fosse o último destino que ele esperava que a família estivesse escondida.

O táxi foi pago e as crianças foram puxadas pela mãe para fora do carro, tanta adrenalina tinha deixado todos de rastos. Contudo, não podiam descansar, ainda não. Entraram juntos dentro do aeroporto e o painel foi observado com atenção pela mãe para ver as horas dos voos, até que ela denota que era dia 𝟏𝟑 𝒅𝒆 𝒐𝒖𝒕𝒖𝒃𝒓𝒐, já passava da meia noite e meia. 𝗢 𝗟𝗼𝗿𝗲𝗻𝘇𝗼 𝗳𝗮𝘇𝗶𝗮 𝗮𝗻𝗼𝘀. O rosto dela encheu-se de alegria e agachou-se diante o filho para o abraçar fortemente com a pequena Magdalena a dormir entre os dois.

- 𝖬𝗎𝗂𝗍𝗈𝗌 𝗉𝖺𝗋𝖺𝖻𝖾́𝗇𝗌, 𝖫𝗈𝗋𝖾𝗇𝗓𝗈. 𝖳𝗎 𝗏𝖺𝗂𝗌 𝗋𝖾𝖺𝗅𝗂𝗓𝖺𝗋 𝗀𝗋𝖺𝗇𝖽𝖾𝗌 𝖺𝗍𝗈𝗌, 𝗏𝖺𝗂𝗌 𝗌𝖾𝗋 𝖻𝗋𝖺𝗏𝗈 𝗍𝗈𝖽𝗈𝗌 𝗈𝗌 𝖽𝗂𝖺𝗌, 𝗇𝖺̃𝗈 𝗏𝖺𝗂𝗌 𝗉𝖾𝗋𝗆𝗂𝗍𝗂𝗋 𝗊𝗎𝖾 𝗈𝖼𝗈𝗋𝗋𝖺𝗆 𝗂𝗇𝗃𝗎𝗌𝗍𝗂𝖼̧𝖺𝗌 𝖾 𝗏𝖺𝗂𝗌 𝗉𝗋𝗈𝗍𝖾𝗀𝖾𝗋 𝗍𝗈𝖽𝗈𝗌 𝗈𝗌 𝗊𝗎𝖾 𝖺𝗆𝖺𝗌, 𝗆𝖾𝗌𝗆𝗈 𝗊𝗎𝖾 𝖽𝖺 𝗍𝗎𝖺 𝖿𝗈𝗋𝗆𝖺. 𝖤𝗎 𝗍𝖾𝗇𝗁𝗈 𝗆𝗎𝗂𝗍𝗈 𝗈𝗋𝗀𝗎𝗅𝗁𝗈 𝖾 𝗏𝗈𝗎 𝗍𝖾𝗋 𝗌𝖾𝗆𝗉𝗋𝖾. 𝖤𝗎 𝖺𝗆𝗈-𝗍𝖾, 𝖧𝗈𝗆𝖾𝗇𝗓𝗂𝗇𝗁𝗈.– Proferiu a mãe sem quebrar o abraço com o seu primeiro filho. – 𝖢𝗎𝗂𝖽𝖺 𝖽𝖾𝗌𝗍𝖺 𝖿𝖺𝗆𝗂́𝗅𝗂𝖺, 𝗌𝖾𝗆𝗉𝗋𝖾.– Acrescentou antes de se libertar do abraço e voltar a prestar atenção aos voos.