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Blue euphoria - posted by guest on 5th February 2021 03:22:38 AM
O habitual? "A voz era familiar assim como não resisti em dar um sorriso suave com um aceno de afirmação assim que ouvi a mesma pergunta já de costume. Os meus olhos desviaram-se para a indicação do nome do bartender, Jack senti-me mais uma vez despreocupada ao sentir a sua familiaridade. Não havia nada melhor de que uma típica sexta feira e um copo de whiskey na mão, um parceiro de longa data e para a vida inteira.
"Scar." o tom rústico do jovem pálido e ruivo era quase tão notável como o agridoce do álcool que escorria pela minha garganta como uma rotina sem fim. "Oliver." acabei de pronunciar com um simples sorriso nos meus lábios. Quente e familiar senti a respiração de Oliver no meu ouvido arrepiando o meu pescoço, como era quase natural todas as noites assim como o olhar intenso de Jack por trás do balcão. "Tenho algo para ti." e a sua mão envolveu a minha com um pequeno saco de comprimidos e outro com um conteúdo branco demasiado familiar para o meu agrado. "Estás completamente louco." E a palavra louco nunca pareceu fazer mais sentido naquele momento. Parecia que de alguma maneira foi levada para um novo mundo assim que as suas mãos tocaram nas minhas, um acordo para a morte ou talvez para vida. Era a questão que ainda estava para responder.
Não queria admitir que tinha aceitado uma das ideias de Oliver mas a realidade já era demasiado tarde para a poder negar e talvez fosse a acumulação de sentimentos ou os olhares julgadores a minha volta que me fizeram dizer que sim, que podia ser o ultimo ou o primeiro dia da minha vida.
A mistura do álcool e o comprimido não fizeram grande diferença nos primeiros segundos mas pensando bem no acontecimento tudo pareceu tão instantâneo como em slow motion. "Não devias fazer isto." ouvi Jack falar, agora uma voz longe e quase desconhecida mas eu apenas sorri porque tudo agora era uma viagem de emoções e todas as mais puras tristezas se uniam no meu ser e não vi outra desculpa para não negar o doce prazer da droga. "Não te preocupes comigo." E acredito que foram as únicas palavras que dirigi a Jack nessa noite.
Sentia-me quente e nua ao mesmo tempo apesar de envergar umas roupas de Inverno e uma inevitável energia de querer dançar, o meu corpo movia-se de forma inconsciente e esquecia-me de todas as pessoas que antes se encontravam á minha volta, sentia os olhares em mim e uma estranha sensação de euforia. Ri-me. Era uma gargalhada pouco melódica e sentia que era barulhenta no meio daquele som de música que parecia ir ficando cada vez mais baixo. As típicas luzes tornaram-se em simples tons de azul, só azul, era tudo azul e uma estranha sonolência fez-se crescer no meu corpo que se ia tornando dormente e já não havia música nem corpos dançantes, apenas eu e vozes que sussurravam o meu nome numa estranha poesia. O meu corpo paralisou da adrenalina e os meus olhos fecharam adicionado á minha mente uma cor nova, tons de verde e rosa e branco num cenário preto. Onde estava eu? Perdida, incapaz de pensar desejava gritar mas o meu corpo estava preso ao nada e a minha voz tinha sido silenciada. Era uma paz que nunca antes tinha sentido. "Scarlett" Era como um grito sussurrado acordando-me do estado melancólico que me encontrava e encontrava-me outra vez de olhos abertos a ver tons de azul. A minha cor favorita deixando um sorriso nos meus lábios que segundos depois foram invadidos por outros um pouco familiares, doces, carentes e firmes. Não tinha agora controlo sobre mim nem as minhas emoções, as minhas mãos agora percorriam um corpo firme até encontrar uns cabelos suaves. Os seus lábios moviam-se sobre os meus numa dança que eu desconhecia e entre mil e um sabores que ainda estava para descobrir. Era caos. Olhava para os olhos daquele ruivo onde via todas as cores menos azul. E foi ai que me perdi, tremendo, sufocando-me, insana á procura da minha única certeza. Aqueles bonitos tons de azul. E cai mais uma vez rendida a um vicio que não era meu.