• Share this text:
Report Abuse
Fanfic estranha que achei no meu pc - posted by guest on 21st March 2020 07:38:49 AM

As sirenes de polícia sempre foram minha única melodia preferida. E lá estava eu ouvindo-as novamente.

Correndo com um sorriso no rosto e dois sacos de dinheiro e joias na mão, eu desviava de obstáculos pelas ruas e entrava em pequenas vielas estratégicas. Conhecia aquela cidade como as palmas de minhas mãos, eu sabia exatamente como fazer os próprios policiais se cercarem e ficarem perdidos. Logos eles, que precisam conhecer a cidade tão bem quanto eu, apenas uma simples cidadã que se diverte durante à noite, do jeito dela.

Ao chegar no meu esconderijo, joguei os sacos e levei meu corpo junto ao peso que eles estavam fazendo para ir direto a lixeira rapidamente, fechando-a logo em seguida. Ouvi as motos passando direto e alguns passos logo atrás, as sirenes emitindo aquele maravilhoso som, que faria qualquer um acordar naquela hora da madrugada assustado. Provavelmente já sabiam quem e o que tinha acontecido.

Eu, de novo, roubando de pequenos a grandes negócios. E a polícia não conseguindo me prender, como sempre.

Num chute forte tirei a parte falsa da lixeira entrando diretamente em outra, do meu prédio. Depois de organizar tudo em seu devido lugar para que ninguém suspeite nem veja os fundos falsos que montei, sigo sempre pela escada de emergência onde não há câmeras, tirando meus sapatos e não encostando em nada para não deixar digitais. Ao chegar em meu pequeno apartamento, a outra parte da diversão começa: contagem de dinheiro e a tentativa do valor mais exato das joias que eu conseguir.

Viro noites contando as montanhas de dinheiro e avaliando as joias e faço questão de guardar tudo do jeito mais perfeito possível. O dinheiro fica sempre encostado na parede de meu quarto em pilhas e a joia na minha mala onde sempre guardo as preciosidades para venda. Vez ou outra ao invés de vender fico com algumas para mim, afinal, ninguém é de ferro. Após tudo organizado e contado, acabo sempre caindo no sono no meio de toda aquela montanha de dinheiro em cédulas e joias. Era como eu adorava passar a madrugada, dormindo e sentindo o cheiro de dinheiro que muitas pessoas julgavam ser “sujo” e se realmente fosse já poderiam me declarar podre, pois eu amo deitar, cheirar e sentir cada dólar, euro e o que mais fosse. Essa era realmente a minha vida.


Eu mal tinha começado a história e já estava exausta, não sabia mais como continuar com aquelas malditas linhas então apenas fechei o notebook e me dei por vencida pelo bloqueio de criatividade, que me atacava há quase dois anos. Eu sabia o motivo. Mas não tinha como simplesmente mandá-lo embora. O maldito motivo estava deitado em minha cama adormecido e se deleitando em belos sonhos. Tão belos quanto seus olhos fechados e face tranquila enquanto dorme. Malditos olhos. Maldita face. Maldito Chase.

Saí da confortável posição que eu estava na cadeira, peguei minha caneca de chocolate-quente-agora-frio meu maço e isqueiro e fui para perto da janela, encarando a vista brilhante e poluída de Chicago de madrugada. Após duas tragadas no cigarro mais horrível que eu já havia comprado em toda a vida, ouvi um breve grunhido vindo da minha cama.

— Precisamos urgentemente comprar outro cigarro para você. Essa merda conseguiu me acordar apenas com o cheiro de morte que solta. — e então aquele — maldito — corpo levantou-se lentamente da cama ao meu encontro. Os olhos castanhos pareciam ficar mais escuros a cada dia. Além de roubar-me um gole do meu chocolate-quente-agora-frio, Chase se achou no total direito de reclamar do gosto.

— Jesus, é um chocolate frio para causar diabetes?

— Correção: é um chocolate-quente-agora-frio anti-Chase.

— Que ótimo, agora tudo que você faz é anti-Chase.

— Nem tudo, meu amor. O café da manhã de bacon e ovos ainda continua salgado. Ainda.

— Um dia você substitui por doce de bacon e ovos e quando esse dia chegar eu espero que tenhamos arrumado uma cozinheira de salgados. — o tom havia sido de brincadeira, mas suas intenções de me machucar foram bem-sucedidas. Eu sabia do que ele estava falando, e eu sabia que se eu prolongasse o assunto iria dar nas mesmas coisas de sempre: a DR da madrugada onde de brincadeiras mal-intencionadas viram gritos e bicos. Sorri gentilmente para Chase, dei-lhe um selinho e fui para o outro lado do quarto, na janela paralela a que eu estava, finalizando meu cigarro.

Era bom suspirar profundamente enquanto a fumaça do cigarro se esvaía pelo ar. Dava uma gostosa sensação de alívio, sem esquecer dos famosos cinco minutos a menos de vida.

Era bom saber desses cinco minutos a menos de vida. Dava uma gostosa vontade de fumar cada vez mais.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------



Passei a madrugada inteira apenas observando Chase e seus movimentos. Mesmo passando por uma fase difícil no nosso relacionamento, ele sabia os dias que eu apenas queria ficar calada e observar tudo, apenas para pôr a mente no lugar e estar psicologicamente preparada para seguir o dia seguinte normalmente. Ele não fez muita coisa logo depois de acordar, apenas foi na cozinha, pegou algo para comer e terminou por lá mesmo, já que não voltou para o quarto com nada em mãos e apenas caiu na cama novamente.

Fico pensando se eu tivesse dito não há quase dois anos atrás, se meu sucesso teria decolado “ao infinito e além”.

Graças a Chase, meu bloqueio criativo retornou. Minha psicóloga não sabe lidar com isso, o que é impressionante, já que eu passo horas conversando com ela e nunca chegamos a uma conclusão. Minha psicóloga sou eu mesma. Sou formada na faculdade Madrugadas em Claro, pós-graduada em Chorar até Dormir. Mas falando sério, tenho alguns distúrbios mentais que são difíceis de lidar pelas outras pessoas, mas eu mesma não faço nenhuma questão de procurar uma melhora já que me sinto extremamente satisfeita com eles e com o resultado que eles dão em minha vida. Em termos médicos, fui diagnosticada como transtorno de personalidade esquizoide a nível médio, necessitando de tratamento. Quem disse que eu queria o tratamento? Eu apenas sempre fui curiosa em saber se esse era o meu caráter ou se eu tinha algum distúrbio e voilà, esquizoide e “masoquista”, já que eu sempre tive grande afeição em sofrer psicologicamente. Meu sucesso vinha do meu sofrimento. Meus melhores livros foram escritos em dias péssimos, onde eu estava no humor mais deprimente possível e nem “melosos” foram. Vendi milhares, ganhei milhares e agora me encontro indo ao buraco graças a Chase.

Sempre gostei de sentir nada pelos outros. Eu apenas sentia... nada. Não era como “ah, eu gosto de conversar com o menino que desenha comigo no recreio, e se ele desenhar com outra pessoa é capaz de eu ficar triste.” eu apenas desenhava com ele e se ele desenhasse com outra criança, parabéns cara, você finalmente largou do meu pé!

O distúrbio nunca me causou problemas e sempre foi ao contrário, eu amava ver as minhas colegas chorando por seus ex-namorados e eu literalmente não dando a mínima porque eu não conseguia sentir nem o sofrimento que elas estavam passando, nem o amor que elas sentiam por eles.

Se eu nunca tive relacionamentos? Claro, alguns. Os que eu consegui aguentar. Se você é mulher, sabe o quão irritante um homem apaixonado e carente pode ser. E se você é homem, deixe de ser um apaixonado carente e irritante cara, honre suas bolas. Ninguém quer um giga-ursinho de pelúcia pedindo um abraço cada vez que encosta na pata. E sexo.

Deus, o ser humano é muito carente e sentimental. Viu? Ser esquizoide era o máximo, até dois anos atrás.

Maldito Chase. Você fodeu com a minha vida.

O conheci em uma das minhas sessões de autógrafo e conversa com os leitores. Além dele ser um gato, tinha conquistado minha atenção fazendo perguntas desafiadoras. Além de ser mesmo um gato.



— Então senhora White, como se sente sabendo que não vai conseguir escrever um romance sem vomitar muitas vezes no monitor?

A plateia olhava perplexa para ele, e curiosa para mim. Eu precisava de uma resposta rápida e gentil. Responda gentilmente, Claire. E dê um murro gentilmente na cara dele após a conversa.

— Bom, acho que todos os meus leitores viram claramente em Fobias e Outros Pesadelos que eu sou ótima escritora de romance... Se for uma necrofilia ao estilo de Allan Poe. — ainda bem que algumas pessoas da plateia deram risada, o que deve ter causado uma distração na minha resposta nada objetiva, mas o desconhecido parecia não ter ficado satisfeito. Ele queria me provocar mais.

— Senhora White, qual é a sua fobia ou outro pesadelo?

Ah, merda. Ótimo, esqueça o murro gentilmente, dê um murro agressivamente na cara dele após a conversa.

— É mais fácil perguntar do que eu não tenho fobia, senhor...?

— Chase Brown. Nós dois juntos daríamos um belo achocolatado.

Jesus, foi a pior cantada de todas que eu vou receber em minha encarnação. Mas o cretino continuava muito gato.




Após toda aquela baboseira paqueradora pela qual eu tive que passar arduamente para conhecer o Chase de verdade, eu achei que tinha superado meu distúrbio ou adquirido um superpoder, pois eu estava amando. “Amando”. Para uma esquizoide como eu, amar era um milagre. Para quem é ateu, milagres não existem. Sou sentimentalmente ateia, então... É. Eu não estava amando. Pobre Chase. Pobre eu. Sei que sou uma maldita por prender ele a mim durante todos esses anos tendo plena consciência de que não o amo, acontece que o caso é o seguinte: eu não o amo, deixo isso claro a ele até expresso em palavras certas vezes, mas ele não desiste.

“Você é um caso raro, mas não impossível, Claire.” E logo após eu recebo um beijo. É sempre isso que acontece quando tento explicar a ele que eu não sou um maldito caso igual os que ele soluciona na delegacia. Eu sou a porra de um ser humano! Sem muitos sentimentos, mas um ser humano. Ok, sem sentimentos.

Ah! Céus, como eu pude esquecer? Logo ele, o único motivo de eu não conseguir mais escrever e eu nem esclareci os porquês.

Vamos lá, como eu sou masoquista (sem o lado sexual, beleza?), gostava e vivia praticamente “sofrendo” o tempo todo. Não consigo sentir muitas coisas e não me importo com quase tudo, mas o sofrimento era uma explosão de coisas para mim. Eu conseguia sentir as coisas que eu lia, as coisas que eu escrevia, através do sofrimento eu entrava em qualquer mundo e me envolvia com ele, eu literalmente vivia tais histórias lidas e escritas, o que fazia da minha leitura ser muito mais proveitosa e da minha escrita, a melhor de toda a minha carreira.

Escrevi personagens fantásticos e enredos viciantes através do sofrimento. Entendam bem, não era solidão e sim sofrimento. Amo ambos, mas o sofrimento me fez chegar em lugares e sentir coisas que eu não imaginaria sentir, apesar de nunca ter me importado em senti-las. Após a chegada de Chase, com a minha ilusão de amor e todo aquele sentimentalismo ridículo e sem graça, toda a minha inspiração foi embora e com ela meus futuros livros eternamente inacabados. Consigo ter novas ideias, mas todas param no meio. Consigo levar o enredo até certo ponto, mas desisto logo em seguida por “falta de tesão” com a história. E assim sigo durante longos dois anos, presa em um relacionamento patético e num eterno monólogo de sentimentos, onde apenas ele dá e recebe de si mesmo, sem nem se importar em receber nada de mim, já que um “caso raro” demanda tempo para ser resolvido.


O relógio despertava exatamente às cinco da manhã, onde um bem humorado Chase pulava da cama e encontrava uma mal humorada Claire em frente ao computador, buscando inspiração outra vez. Eu sou obviamente uma pessoa persistente.


Report Abuse

Login or Register to edit or copy and save this text. It's free.