Bella

Fiquei sentada no mesmo lugar em que eu estava olhando para a porta mesmo após Edward ter saído já há algum tempo. Tentei não ser invadida por todas as memórias, mas foi impossível. Era como uma enxurrada de lembranças bombardeando minha mente. Não pensar sobre o dia que eu o vi pela primeira vez foi impossível, tão impossível quanto conter o sorriso idiota que estava em meus lábios agora.

11 anos atrás...

– Eu não acredito que vocês não vão comigo – fiz uma careta para Alice e Leah – Qual é, vamos fazer algo diferente. Por favor?

– Bella, eu quero ser advogada, o que eu vou fazer em uma empresa de arquitetura? Eu odeio desenhar – Alice protestou.

– Vamos ter que fazer um relatório sobre essa visita técnica, quero uma nota boa, não vou ser aceita em uma boa universidade com notas medianas – Leah complementou.

– Só pra constar, eu odeio vocês – cruzei os braços irritada.

Eu tinha 15 anos e estava no primeiro ano do colegial. A escola nos levaria para fazer uma visita técnica e tínhamos que escolher entre três lugares: o primeiro era uma firma de advocacia, o segundo era uma empresa de arquitetura e o terceiro era uma fábrica de refrigerante, todos em Seattle.

Alice, Leah e eu éramos de Forks, uma pequena cidade no interior de Washington, mas no colegial, nossos pais decidiram que teríamos mais chances de entrar em uma universidade melhor se estudássemos em Seattle, então, nossas mães fizeram um esforço e se mudaram conosco para a cidade, passávamos a semana lá e no fim de semana, voltávamos para Forks, era difícil, mas era um esforço que valeria a pena... palavras delas.

Resignada por ter sido abandonada pelas minhas duas supostas melhores amigas, me separei delas fui para o terceiro ônibus que iria para o destino que escolhi: A Cullen & Hale Architecture. A maior parte dos alunos que estavam indo no ônibus comigo eu não conhecia, então, eu era a garota que ficou sozinha e não estava falando com ninguém. Não que eu fosse popular, era o oposto de popular.

Ao chegarmos na empresa, uma das donas, Rosalie Hale, veio nos receber, ela disse que seu parceiro estava em uma reunião e logo se juntaria a nós também. Eu fiquei encantada com a beleza dela, Rosalie era o ser humano mais bonito que eu já vi na vida. Elegante, educada, rica e bem sucedida, ela é tudo o que eu queria ser na vida um dia.

Ela nos mostrou a empresa e tinha sempre um sorriso educado no rosto, embora fosse de certa forma interessante, eu estava entediada, eu devia ter ido com Leah e Alice. Respirei fundo, tinha que me lembrar de nunca mais ir a lugares sozinha...

– Peço perdão pela demora, estava resolvendo alguns assuntos importantes – ouvi uma voz masculina falar atraindo a atenção de todos, especialmente das garotas, e interrompendo minha linha de pensamentos. O murmurinho foi alto, ergui os olhos para ver de quem se tratava e meu coração parou de bater no mesmo instante – Meu nome é Edward Cullen, sou o parceiro de Rosalie e um dos donos da empresa, espero que ela já tenha conseguido lhes mostrar o local.

Ele sorriu, era um sorriso de diferente, apenas um dos lados de sua boca estavam repuxados em um sorriso, seus olhos eram os mais verdes que eu já havia visto na vida e tinham um brilho diferente, os cabelos acobreados e de mechas avermelhadas eram certamente diferentes, mas combinavam com ele e caíam em sua testa formando uma cortina ruiva sobre seus olhos. Fiquem perdidamente encantada no momento em que ele passou a mão pelos fios, puxando-os para trás e tirando-os do rosto.

Edward, como assim ele se apresentou, olhou em minha direção enquanto sorria, não durou mais do que dois segundos e certamente ele não notou minha presença ali, mas eu havia notado a sua presença.

Ele falava sobre coisas relacionadas a sua profissão e de vez em quando, tentando atrair sua atenção, algumas garotas faziam perguntas, algumas eram um pouco mais ousadas e faziam perguntas sobre ele que educadamente, ignorava tais perguntas e mudava de assunto. Ele era bem educado em responder, mas não lhes dava atenção.

Lauren, uma das garotas mais bonitas do primeiro ano, com seus seios fartos, cabelos loiros e olhos azuis, não conseguiu prender sua atenção, sendo assim, por que ele olharia justo para mim?

Perto do final da visita que fazíamos, eu me distanciei do grupo e fui até a lanchonete. Eu tinha pedido um refrigerante, mas estava ponderando se comprava também o bolo que eu queria, eu tinha dinheiro para os dois, mas se comprasse, provavelmente ficaria sem dinheiro pelo resto da semana. Tudo aqui era tão caro.

– Não consegue se decidir? – alguém perguntou atrás de mim.

Imaginei que fosse Jacob, ele passou a manhã inteira querendo chamar minha atenção e eu estava meio que de saco cheio dele, mas também não queria ser mal educada.

– To decidindo se vale a pena gastar todo meu dinheiro comprando o bolo, aqui é tão caro – respondi sem tirar os olhos da vitrine – Mas tenho medo de não gostar, seria pior gastar todo o dinheiro com algo que seja ruim.

Jacob não me respondeu, ao invés disso, a atendente apenas pegou uma fatia grande do bolo e entregou a mim.

– Não é ruim, mas considere isso um presente de boas vindas à minha empresa.

Apenas quando ouvi a resposta, me virei para ver quem falava comigo. Meu rosto ficou instantaneamente vermelho ao ver que não era Jacob que estava falando comigo, mas sim Edward. Ele sorriu educado e agradeceu quando a atendente lhe deu um copo com café, murmurou um “divirta-se” e se virou para ir embora.

– ESPERA – grite chamando sua atenção, mas me arrependi no instante em que ele se virou para me olhar, uma sobrancelha arqueada de forma inquisitiva, ele olhou no relógio e olhou de volta para mim – Desculpe – sussurrei sem graça – Mas eu não posso aceitar – apontei para o bolo – Eu achei que fosse Jacob falando comigo, não sabia que era você.

– Tudo bem, eu queria meu café e você estava na vez para ser atendida, só te ajudei a ter o que você queria e consegui meu café – ele ergueu o copo em sua mão para evidenciar o que falava – Se me der licença...

– Você tem uma empresa legal – eu não sabia porque estava falando tanto ou de onde tinha arranjado coragem, mas ele visivelmente queria sair dali e eu não conseguia fechar a boca – É realmente impressionante, não entendo muito de arquitetura, mas o prédio é bonito.

– Eu desenhei o projeto dele – ele sorriu orgulhoso – Então nesse caso, muito obrigado.

– Faz sentido, você é arquiteto, tem sua própria empresa... mas eu me questiono, Rosalie deveria ter desenhado algo também, não deveria? – franzi o cenho confusa – Digo, ela também é uma das donas, não queria ofender.

– Não ofendeu – ele riu – Embora eu esteja surpreso que você esteja particularmente interessada na participação dela.

– Foi só uma curiosidade – encolhi os ombros.

– Justo – concordou – Ela fez um projeto para o prédio também, era muito bom também, mas o famoso “cara ou coroa” decidiu o projeto vencedor. Você quer ver os projetos originais do prédio?

– Tem certeza? Você parece ocupado, não quero atrapalhar.

– Tudo bem, eles ficam logo ali – ele apontou para uma parede logo mais à frente.

Acabei concordando. Peguei meu bolo, pois estava com fome, e o segui. Edward e mostrou os dois projetos na planta e as maquetes 3D dos projetos para o prédio. Realmente, o modelo desenhado por Rosalie era igualmente bonito e bem feito, ela apenas foi menos afortunada em ter a moeda contra ela.

Durante esses poucos minutos de conversa, pude descobrir que diferente do que eu imaginei, Edward e Rosalie não eram casados, mas sim amigos de faculdade que ao se formarem, decidiram investir em seu próprio negócio, ele tem 27 anos e sua namorada se chama Tanya. É claro que ele teria alguém, suspirei vencida.

– Na verdade, eu quero ser advogada – respondi a sua pergunta sobre se a visita a empresa me ajudou com a escolha da profissão.

Ele arqueou uma sobrancelha visivelmente confuso.

– Pelo que soube, um dos destinos da sua escola era uma firma de advocacia, não era?

Coloquei mais um pedaço do bolo na boca, mastiguei devagar e engoli antes de responder.

– Sim, mas eu já sei o que eu quero fazer, queria ver o que outras pessoas fazem também – dei de ombros – Aparentemente, Alice e Leah não estavam de acordo em vir comigo. Mas eu sinto que precisava ver outras coisas, algo como conhecer os horizontes antes de me firmar em algo, acho que não faz muito sentido, mas na minha cabeça faz – sorri sem graça.

– Na verdade, faz bastante sentido, é bem esperto da sua parte na verdade... – seu celular tocou interrompendo o que ele dizia, ele tirou do bolso vendo algo na tela – Tanya está aqui. Eu tenho que ir, foi um prazer conhecer você... – ele olhou para o nome no crachá ridículo que eu usava – Isabella...

– Bella – o interrompi – Eu prefiro que me chamem de Bella.

– Certo.

– E obrigada pelo bolo e pelas explicações, foram úteis, vão me ajudar com meu relatório.

– Fico feliz em ajudar. Boa sorte com o relatório, na escola e futuramente com a faculdade.

– Boa sorte no trabalho.

Ele sorriu e se virou caminhando na direção oposta. Ele não se virou para me olhar ou acenar, encontrou no final do corredor com uma loira morango com cara de nojenta e a beijou na boca, lhe oferecendo a mão logo em seguida.

Suspirei decidida. Eu vou tê-lo para mim, não sei como, mas vou ter.