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Eu to quebrado carai - posted by guest on 3rd July 2020 06:03:00 PM

I'M A RUIN BY MARIPOSA

Arimã retornara às Macadâmias.

A manhã era gelada em São Sanso, Arimã descia por uma espiral de pensamentos obsessivos e rodava pelo quarto desde as 3 da madrugada. A fisiologia do seu corpo humano era seu pior pesadelo, ele dificilmente conseguia dormir sem auxílio e aquela parada de se manter sóbrio estava deixando ele completamente fora de si. Ele suava frio e sentia as lágrimas rolarem por seu rosto enquanto tentava se manter no propósito. Foi ele quem escolheu esse destino, quem decidira parar de repente para se tornar um ser “melhor”.

Ele revivia fragmentos das guerras que lutara, dos amores que se foram, da eternidade que passou só, até que nada mais fazia sentido. Restava-lhe apenas o vazio imenso de si, os enjoos da ressaca, e os tremores da abstinência. Era difícil se apegar sabendo que ele estava fadado a passar por tudo e permanecer enquanto tudo teria seu fim. Ser filho do tempo era seu destino. Sua essência poderia ser divina, mas seu senso de propósito havia ficado para trás naquela derrota.

A abstinência era programada, mas a sua falta de controle deixou-o sem suprimentos muito antes do previsto. Era o final do seu estoque de heroína, o qual foi adquirido a duras penas com o salário mixuruca de crupiê. Não havia mais salário, não havia mais pó.

Sua mente vagava entre a possibilidade de entrar em contato com seus antigos fornecedores ou tentar se enterrar vivo no quintal da academia. Porém, o vício venceu e ele se arrastou para fora do quarto para buscar mais. Ele precisava de mais, qualquer coisa que preenchesse aquele vazio.

O cassino lhe proporcionara diversos contatos e um deles era particularmente ruim, mas ao menos ele podia contar com seu lado emocional na tomada de decisões. Ele procuraria seu antigo fornecedor de drogas, o verdadeiro Emperador em São Sanso.

Estava descalço, sem blusa de frio, só podia pensar naquele imenso vazio, aquele sentimento de perda que só uma dose aliviava. Caminhou até um bairro mais movimentado, e lá, ameaçou um motoqueiro num semáforo para lhe roubar a motocicleta. Sem pensar em nenhuma consequência, ele jogou o motorista no chão e disparou pelas ruas com a moto.

Arimã pilotava rápido, tentando se desviar do trânsito intenso daquele horário. Inconsequentemente furava os semáforos, ouvindo as buzinas ecoando, como se dentro de sua mente. Ele estava familiarizado com aquele caminho, aquele já fora algo como um lar. São Sanso tinha os piores becos se você soubesse onde encontrá-los, e nisso Arimã tinha experiência.

Largou a motocicleta na calçada do beco e bateu na porta sem se sentir presente naquele corpo. Arimã sentia apenas uma ânsia intensa de algo que não existia. O vento frio cortava sua pele, mas o único pensamento que lhe vinha era o de querer saciar aquele desejo que lhe doia nos ossos.

— Sou eu… Arimã. Eu preciso de H… Por favor me deixa falar com o Sal.

O segurança do local abre uma fresta da porta para poder ver quem está lá. Ao dar de cara com o rosto de Arimã encostado na porta, ele se assusta e empurra a porta com força. O tranco na porta foi forte o suficiente para jogar o semi-deus na calçada.

— Por favor… Eu só preciso de um pouco agora! — ele choramingou avançando de quatro até a porta, ouvindo murmúrios do outro lado.

O segurança abre a porta sem dizer nada e a pobre figura decadente engatinha para dentro. Foi erguido pelo enorme homem ao seu lado, que fez sinal para que o seguisse. Andou pelos corredores do antigo prédio, subindo por uma escada até o segundo andar. Era tudo muito claro, e as luzes pareciam agredir seus olhos conforme eles se aproximavam da sala de Sal. O segurança disse algo para ele, mas foi simplesmente incapaz de distinguir qualquer palavra quando a porta se abriu e viu Sal.

— Salvatore meu anjo, minha vida. E-Eu, é tudo bem? — ele se esforçava para se lembrar de piscar e de funcionar como um ser humano, fez menção de abraçar o homem à sua frente.

Salvatore era um homem albino com cabelos longos, usava um terno branco e sapatos escuros e bem lustrados. Ele era conhecido no meio por seus poderes advindos de sua ligação com feitiçaria.

— … Bem bonito o senhor voltar aqui desse jeito… Depois daquele showzinho de querer ser herói desse poço de ratos. — Sal empurra-o para longe e começa a andar para longe.

— Aquilo não foi nada… Eu só estava fingindo. É-é você sabe, não é? — o semi-deus hesitava e olhava ao seu redor, sem conseguir focar em um lugar. — Você sabe que eu não faria nada que fosse te prejudicar, Sal…

— Claro que não faria, seu merdinha. — ele agarrou o pescoço de Arimã. — Você não vai voltar pra lá… Ao menos, se você quiser uma dose, vai ter que ficar aqui.

Ele grunhiu baixo, ao sentir a pressão em seu pescoço. Não conseguia encará-lo e os tremores em seu corpo se intensificaram, e ele sentia sua boca secar rapidamente. O toque de Sal o rendia completamente, como se parasse de funcionar por alguns instantes.

— Você pretende pagar agora ou vai parcelar até eu ter que mandar alguém pra te cobrar?

— Eu faço qualquer coisa… Só um pouco depois-s prometo que dou um jeito de pagar.

Arimã perdia aos poucos o controle de si mesmo, deixando a forma de fera tomar conta de si mesmo enquanto conversava com Sal. Ele não percebeu que os outros seguranças entraram na sala, preparando uma emboscada.

— Eu vou precisar agora, Sal. Não queria ter que fazer isso, mas eu não aguento mais. — disse ele, com sua voz grave já completamente transformado.

— Você não precisa pagar em dinheiro, Arimã, não dessa vez. — Sal estala os dedos.

Arimã sentiu como se perdesse o controle do próprio corpo, o chão tremia e sua visão começava a ficar turva. Até tudo escurecer…

Ao acordar, em uma cela, o semi-deus se viu nu, e á sua frente uma mesa de metal. Seu pó marrom preferido já dissolvido, dentro da seringa sobre a mesa. Seus movimentos foram tão bruscos que até o guarda em frente a ele tomou um susto. Ele se sentou no canto da cela e se deixou levar por alguns minutos de euforia proporcionados pela droga.

Aos poucos ele voltou a se sentir Arimã, como se aquele lado feral se dissipasse. Era uma sensação horrível de se perder que vinha com a dependência da substância, e quando batia o barato era como se tudo isso desaparecesse numa nuvem de prazer imediato. Ele inspirava fundo, pausadamente ainda voltando a si. A vergonha pesava em sua mente, como ele foi idiota e se deixou novamente entrar numa situação merda por causa do seu vício.


PARTE 2 

ENTRE ROEDORES E ARMAS BY EU 

Havia outra pessoa preso com ele, parecia alguém levemente conhecido talvez tenha passado pelo cassino, definitivamente outro viciado ainda mais quebrado que ele. Sua pele parecia já estar se fundindo com os ossos e o resto de músculos que o mantinha vivo, parecia ser um ser inofensivo e pelas marcas no braço acabara de tomar mais uma dose também, provavelmente estava viajando nesse momento.

Escutando um bater de palma, Arimã se vira ao outro lado de onde havia vindo o som, e somente agora percebe que estava sendo observado não apenas pelo guarda que por ter se assustado chamará a sua atenção, mas também Salvatore, sentado em uma poltrona que claramente não pertencia a aquele lugar, ele sorria como se fossemos seu freakshow particular, mas tinha algo mais… Claramente ele planejava algo mais.

— Finalmente estão de pé... Sabe, eu reino sobre o submundo de São Sanso, tenho várias pessoas trabalhando para mim, pessoas poderosas que nunca vão levantar um dedo para tentar me destruir, mas vocês… Vocês são um caso a parte, tem um valor diferente… tem tudo para ser meu cão de guerra. 

Salvatore se levanta e começa a preparar mais uma dose de heroína. Os dois presos assistiam como cachorros vendo frango na padaria, porém Arimã ainda tinha um resquício de seu orgulho que o deixava incomodado e agitado, talvez fosse o próprio efeito da droga, mas não conseguiu se conter e questionou quase que grunhido:

— O que você quer com a gente?

— Com “vocês”? Nada. - Sorriu ele com uma cara de satisfação e sadismo. - Eu quero apenas um de vocês… o que conseguira a próxima dose, e provará o seu valor para mim e sobre o corpo do outro. Podem começar.

Se senta com a seringa a seu lado, assistindo aqueles dois assustados e olhando para os lados, pensando no que poderiam fazer e ainda assimilando o que foi dito, porém Arimã só consegue pensar “que maldito! Como pude estar com ele algum momento! Como quero quebrar a cara dele!” estalos começa a vindo do outro homem, corta seu pensamento e faz ele se voltar ao rapaz magrelo, porém os músculos dele parecem ter triplicado de tamanho, pelos e garras rasgam a pele, fazendo ele se tornar algo parecida com um homem tigre desnutrido e de cor acinzentada onde ainda havia pelo. Arimã, ainda sobre efeito da heroína não encontra aquela sua besta interior, e apenas recua vagarosamente, repetindo baixo pra si mesmo:

— Fodeufodeufodeufodeu…

E então aquela besta pula contra ele, que desvia quase que instintivamente, mas ainda assim acaba recebendo um corte em seu braço. Seu pânico toma conta fazendo ele buscar na cela algo que possa o ajudar, mas nao ha nada la, em um breve momento de consciência vem a ele “a própria cela”. Então começa a ir perto dela, enquanto desviava das investidas daquela besta que era plena selvageria. Numa última investida, quando Arimã está quase encostado nas grades, ele erra o ataque fazendo seu braço passar pela grade e ficar preso por um breve momento, o qual Arimã aproveita para pular sobre as costas daquele animal e o dando um mata leão, a fera até se debate o jogando contra a parede, chão e o arranhando, mas já era tarde demais e começa a desfalecer, e então a fera cai.

— Sabia que mataria por mais uma dose! - Salvatore se levantando ainda sorrindo- Meu novo cachorrinho! parab- Uma explosão vinda de algum andar superior o corta.

Um dos guardas entra pela porta, esbaforido e com uma arma digna de guerra, atrás dele outros dois homens entram mas ficam perto da porta como se tivessem a defendendo, o que era compreensível frente ao barulho que tiros e gritos que corriam o corredor.

— Se-senhor, estamos sendo atacado. Acho que descobriram sobre os presos…

— O que!? - Sal. se fita Arimã - Você trouxe eles pra cá!? ARRGH! Vamos, deixem esses lixos ai… Talvez você possa provar seu valor matando o seu amiguinhos heróis quando trouxermos eles aqui. Vamos!

Todos saem pela porta ficando apenas o guarda assustado sem saber o que fazer ali. Os barulhos não cessam, apenas aumentam e agora flash de luz aparecem por entre a brechas da porta, junto com alguns barulhos de explosões e algumas risadas se misturavam com os grito. Arimã começa a ficar tenso e grita para o guarda que sobrou, enquanto fica contra a grade tentando o alcançar:

— Abre aqui caralho! Não deixa a gente morrer assim!

O guarda não fala nada, apenas reveza entre mirar em arimã e mirar na porta, com uma expressão de panico. Então pelo radio se escuta Sal.

— Recuar! Todos que sobraram recuar! Matem os prisioneiros e recuem!

O guarda então se vira para Arimã e aperta o gatilho, claramente agindo por impulso, e Arimã se joga no chão. Nada. Nenhum som, nenhum tiro. quando ele se volta ao guarda, uma bandeira escrita “Bang” está saindo do cano, ela então parece virar um fio e começa a chicotear o guarda o levando a outra cela vazia, que quando ele entra se fecha e a própria arma se contorce sobre a porta dela a trancando.

A porta se abre e e vários coelhos e coalas armados e com faixas vermelhas entram como se fosse um esquadrão de soldados, e um deles grita um som parecendo “Clear” falado pelo esquilo Alvin, entrando então Trir, um pouco suja de sangue e com marcas de pólvoras, como se os tiros tivessem deslizados sobre seu corpo. Os animais somem, e ela se volta pra Arimã, que está boquiaberto e confuso, ajoelhado ao chão.

— Oi chuchu, que bom que te vi saindo de mansinho em! Vem vou te tirar daqui.

Abre a cela como um pequeno brilho, e o pega no colo. Um coala de tamanho humano entra na sala e pega o tigre humano, que estava apenas desmaiado e some com ele. Ela então abre um portal que parece se dar pra lugar nenhum mas um vento forte entra por ele, ela se volta contra o guarda.

— Conversaremos depois.

Então se joga no portal junto com Arimã, aparecendo no céu ja perto da academia. Olhando Arimã, faz uma coberta de leãozinho aparecer sobre ele.

— Não sei se sente frio, mas é melhor que chegar sem roupa na escola… Sabe todo mundo bebe, muitos usam outras substâncias, mas ninguém encara a realidade de ser viciado em uma parada e o quanto isso destrói tudo, quanto sofrimento o viciado trás tanto para si quando pras pessoas ao redor. Para de usar eu sei que é difícil, ainda mais existindo a tanto tempo e vendo tantas coisas erradas acontecendo, então tente ter controle. Lembre quem você é, quem é o semi-deus…

Arimã não falava nada, e nem a olhava, apenas se encolhia entre a coberta, pensando em tudo que tinha acontecido até aquele momento, e o quanto aquelas palavras pesaram para ele. Trir então fala:

 — Bom estamos chegando na academia já. Salvatore fugiu, então fique atento, pois talvez tenha que enfrentar novamente a tentação por sua conta.

Pousando no telhado da escola, para ninguém os vejam, ela olha pra ele sorrindo e então faz um sinal para que ele entre na academia, como uma mãe incentivando uma criança pequena a entrar sozinha pela primeira vez na escola.

— Vai pode ir, tá tudo bem. E você precisa colocar roupas.

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