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Saúde e beleza no Antigo Egito - posted by guest on 21st May 2020 12:41:20 AM
Saúde e beleza no Antigo Egito
Para o egípcio, não se tratava de dar prioridade ao corpo em oposição à alma, mas de equilibrar ambos os níveis de maneira harmônica. Porque todo o visível e todo ato físico refletem-se nos níveis invisíveis e vice-versa. O equilíbrio da estética do corpo e da alma era condição para poder avançar com êxito na vida, expressão do reflexo do invisível no visível, das causas ocultas no mundo manifestado.
Banhar-se, inclusive várias vezes ao dia, era a base da higiene pessoal. Não há evidências de que usassem sabão, os indícios preservados sinalizam produtos como natrão, soda cáustica, azeite, cinza ou areia. As casas mais opulentas contavam com quartos de banho com pias, as pessoas mais modestas faziam sua limpeza diária nas margens do Nilo ou nas valas. A limpeza era uma condição indispensável particularmente para os sacerdotes que atuavam nos âmbitos sagrados. Banhavam-se duas vezes ao dia e duas vezes à noite e a cada três dias depilavam o corpo inteiro.
Todos os demais – homens e mulheres – tiravam com sumo cuidado os pelos ou os aparavam, já que o corpo com pelos era inaceitável do ponto de vista estético, talvez (como geralmente afirmam) para evitar a presença de parasitas como piolhos, pulgas, etc. Os pelos eram eliminados com navalhas, espécies de lâminas de barbear e com cremes depilatórios especiais.
Atribuía-se grande importância aos perfumes e aromas. Ao finalizar o banho, friccionava-se o corpo com óleos aromáticos umedecedores ou com unguentos perfumados importados do oriente que retardavam o envelhecimento da cútis em um clima arenoso e tórrido, ao mesmo tempo em que configuravam o elemento básico da fragrância corporal.
Um célebre unguento egípcio denominava-se metapión e sua composição continha óleo de amêndoas amargas e olivas verdes, aromatizado com cardamomo, grama de cheiro, junco, mel, vinho, mirra, semente de beijo (maria-sem-vergonha), gálbano e essência de terebentina. Segundo Plínio e Dioscórides, utilizava-se esse unguento na medicina como calmante para curar abcessos purulentos, feridas de tendões e ligamentos, visto que causava a dilatação dos vasos, o aquecimento e uma melhor irrigação sanguínea e, por consequência, a transpiração.
Outro aspecto interessante da higiene pessoal era a limpeza da dentadura. Utilizavam varetas de madeira especiais (raminhos de árvores ou junco) que mastigavam , assim como bolinhas de mirra, incenso ou canela para eliminar o mau hálito ou também gargarejavam com leite. Múmias e papiros medicinais encontrados dão testemunho sobre a grande incidência de abcessos dentais, em oposição à pouca frequência de cáries, o que seguramente tinha relação com a composição dos alimentos que, diferentemente de nosso tempo, continham consideravelmente menos açúcar. No entanto, devido à presença de areia fina nos alimentos, especialmente no pão, a dentadura desgastava-se excessivamente e os dentes ficavam fracos, assim, os achados de pontes dentais não eram uma exceção.
As cicatrizes de queimaduras eram curadas com unguento de mel, incenso ou alfarrobeira. Para as mulheres grávidas, eram preparados unguentos de óleos especiais destinados a prevenir a formação de estrias.
A maquiagem dos olhos era o ponto mais importante. A fim de obter a forma amendoada e prolongar a linha ocular, utilizava-se malaquita verde ou a substância denominada khol, que era produzida com galenita de cor cinza escuro e algumas vezes misturavam com gordura de ganso.
Aplicava-se o ruge na pálpebra superior e na inferior e costumava-se combinar ambos os tipos de cor. O verde nas sobrancelhas e nos ângulos dos olhos, o cinza como delineador e para colorir os cílios.
Os lábios e as unhas eram adornados com cor vermelha, porém são desconhecidos os ingredientes utilizados no corante. O vermelho também era usado para colorir as bochechas (geralmente se preparava com gordura e ocre vermelho).
O cuidado com o cabelo, coroa da aparência, tinha enorme importância. Em ocasiões solenes, as mulheres e os homens ostentavam perucas feitas com cabelo humano. As mais elaboradas costumavam ser confeccionadas com mais de 120 mil fios, trançados em uma rede, utilizando-se rezina e cera como cola. As perucas comuns eram fabricadas com as avermelhadas fibras da tamareira.
Também, dedicava-se máxima atenção ao próprio cabelo. Nos papiros medicinais encontramos muitas receitas preparadas contra a calvície, os cabelos brancos e a caspa. Por exemplo, o corante que devia ocultar os cabelos brancos, preparava-se do seguinte modo: cozinhava-se em óleo sangue de um boi ou de um bezerro negro a fim de obter a cor negra ou preparava-se o unguento de óleo e chifres negros de antílope.
Obras consultadas:
Livraga, J.A.: Théby (Tebas), Praga 1994
Manniche, L.: Staroveký Egypstský Herbár (Herbolario Egípcio Antigo), Volvox Globator, Praga 1993.
Pollak, K.: Medicina Starodávných Civilizaci (Medicina de Civilizações Ancestrais), Orbis, Praga 1993.
Vachala, B.: Zajímavosti Starého Egypta (Curiosidades do Antigo Egito), Albatros, Praga 1989.
Vilímková, M.: Staroveký Egypt (O Antigo Egito), Mladá fronta, Praga 1977.
Tyldesley, J.: Dcery bohyne Isis (Filhas da Deusa Ísis), Domino, Ostrava 1999.
Sabina Hrncirová