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Untitled - posted by guest on 5th June 2020 04:14:17 AM

1 - A luta pela vida em tempos de pandemia

Estamos vivendo um momento histórico devido a pandemia do Corona Vírus. Desde março quando surgiram os primeiros casos no Brasil, todos os dias somos bombardeados com o crescente avanço da Covid-19 no país. É importante ressaltar que tivemos relativamente tempo para nos preparar e tentar minimizar os efeitos que seriam causados, mas devido a incompetência do Governo Federal e a negação ao que a ciência sinalizou do que poderia acontecer nos próximos meses sem tomar medidas corretas, chegamos rapidamente ao colapso da saúde pública, um ministro da saúde interino que até o momento ainda não prestou entrevista coletiva e sequer os planos. São centenas de milhares de vidas ceifadas, deixando a dor e a saudade aos seus e nenhuma expectativa de quando sairemos disso.

O Brasil está entre os 5 países com mais casos e óbitos confirmados, potencializados pela desigualdade social e precarização intencional ao Sistema Único de Saúde (SUS). Cenário este agravado pela postura genocida do Presidente da República que tratou como uma ‘’gripezinha’’ uma epidemia disseminada pelo mundo, além de ignorar e ir contra as orientações dos especialistas em Saúde Coletiva nacionais e internacionais. Não suficiente, ainda há a divulgação pelo próprio governo de várias fakes news, incluindo a utilização de um remédio de prevenção, mesmo com órgãos especializados negando a eficiência do mesmo e ressaltando os efeitos colaterais. Ou seja, além de nos encontrarmos em uma pandemia, somos atacados diariamente com as inúmeras irresponsabilidades de um governo que não se importa com o seu povo e deixa claro em falas públicas do Presidente, como: “Lamento todos os mortos, mas é o destino de todos” entre outras.

A situação no estado é caótica e as medidas lançadas pelo governo não dão assistência necessária aos pequenos empreendedores e às famílias vulneráveis expressas no alto índice de letalidade do vírus na periferia da capital. Fortaleza está entre as principais cidades do país em acúmulo de casos confirmados e óbitos, por essa razão, a Resistência Tricolor puxou campanha para o decreto do Lockdown - medida de lei imposta pelo estado ao bloqueio total de uma região - que foi executado na capital, porém infelizmente já retirado com a volta gradual do comércio mesmo com ainda os altos números de casos. Lamentavelmente sabemos que tais medidas tomadas são imprudentes e ignoram quem realmente sofre, o povo. Diante disso, nós da Resistência Tricolor reiteramos a importância do isolamento social para desacelerar a propagação do vírus, visto ser esta uma maneira eficácia no momento e defendida por especialistas na área da saúde.

2 - "Brasil acima de tudo": um governo racista e fascista!

Os grupos, coletivos e movimentos populares a cada passo dados em suas trajetórias fincam raízes cada vez mais profundas no ideário social, de onde vem a importância de perceber esses tais movimentos como essenciais na construção de uma sociedade sem desigualdades e injustiças sociais.

Não é novidade pra ninguém nossa posição a respeito do atual presidente do Brasil e de seu Governo. Jair Bolsonaro sempre se posicionou como sendo machista, seja ao fazer piadas sobre estupros de mulheres ou desdenhando sobre os altos índices de feminicídio no Brasil. Já se mostrou LGBTfóbico ao dizer enquanto ainda era candidato que era homofóbico sim, com muito orgulho. Essas e tantas outras frases lamentáveis de ataque às camadas populares vinda do presidente demonstram o seu modo de governar. Em um dos últimos episódios, ao ser questionado pela enorme quantidade de mortes por Covid-19, não só se retirou do serviço à nação, demonstrando a mentira do lema “Brasil acima de tudo”, como desdenhou afirmando "não ser coveiro”. Ele não se preocupa porque sabe que quem mais morre com a Covid-19 no Brasil são as pessoas negras e pobres. E quem disse que as arbitrariedades do Governo estão presentes só nas palavras do Presidente?

Movimentos organizados pelo mundo a fora saíram às ruas nos últimos dias para gritar que "precisam respirar". Após a morte por sufocamento do afroamericano George Floyd, morto pelo policial branco Derek Chauvin em Minneapolis, as ruas do mundo foram tomadas por gritos antirracistas, inclusive no Brasil. Esses dias vem sendo um daqueles poucos momentos em que a mídia ocupa seus noticiário timidamente com uma pauta antirracista.

O Governo Bolsonaro é racista e fascista por negligenciar o combate ao novo Corona Vírus. É racista e fascista ao querer transferir a responsabilidade da resolução do caso "Marielle" pra polícia federal onde já mostrou que intervém politicamente pelos seus benefícios e para proteção de sua família. É racista pela continuidade do projeto encarcerador massificado que prende corpos pretos em presídios lotados e desumanos. Bolsonaro também tem culpa em sermos o país que mata um jovem negro a cada 23 minutos. Bolsonaro nunca se pronunciou em benefício das milhares de vítimas policiais no Rio de Janeiro, estado que o elege deputado a 30 anos. Não tem como dizer que não sabe, todos escutam seus discursos. Agora iremos responder a pergunta feita: São para além das palavras. Esse governo genocida de Jair Bolsonaro tem sangue nas mãos por suas práticas aniquiladoras. Os indígenas desse país que o digam. Os povos tradicionais são os grupos mais violentados por esse governo. Racismo, Fascismo e a herança patriarcal eurocêntrica são bases de um governo que sufoca vidas e dilacera sonhos todos os dias.  

A Polícia Civil e Federal usam o argumento da "Guerra às Drogas" para dissipar a vida dos nossos adolescentes. Foi dessa forma e com essa justificativa que nos últimos meses crianças foram mortas nas favelas do Rio de Janeiro durante operação policial dessas forças. Ágata, Kauê, Kauan e João Pedro são alguns dos nossos meninos que tiveram seus sonhos interrompidos, todos eles com menos de 15 anos. Não nos deixam respirar.

O fascismo de Jair Bolsonaro se escancara com as tentativas de manipulação política da Polícia Federal, mas também no desrespeito ao STF quanto ao seu papel social e jurídico. É fascista por deixar nítido que não tem apego algum as bases democráticas da nossa tão jovem e frágil democracia e que fará qualquer coisa para sua manutenção no poder, é também pelo ódio à imprensa, pela paixão desenfreada às bases do fascismo tradicional e o ódio declarado às liberdades democráticas.

Só ganharemos desse governo na luta. Infelizmente Bolsonaro tem ao seu lado outros inimigos, e um deles é a Covid-19. Não toleraremos mais mortes, nem por um e nem por outro. Na luta é o nosso lugar e de lá não nos retiraremos. Esse Governo Racista e Fascista há de ser derrubado, e o faremos por nossas mãos.

3 - Criminalização das torcidas Organizadas

O movimento de torcida organizada surge no Brasil por volta dos anos 60, mas é nos anos 70 que se populariza e ocupa as arquibancadas e ruas do país. Os grupos de torcedores organizados fundados nesse período nascem em meio a um momento de reconfiguração política e social, em pleno regime ditatorial em que vivíamos a sombra do autoritarismo militar que se alastrava por todas as esferas públicas e privadas do país. O ambiente político fazia com que jovens passassem a se organizar de diversas formas, em escolas, universidades, bairros etc. almejando um país com liberdade de expressão, igualdade e democracia. No futebol não seria diferente. Surgem então as torcidas organizadas, um movimento em que a juventude se aglutina para acompanhar e defender um clube de futebol, mas também para reivindicar, mesmo que de maneira indireta, uma série de direitos negados.

Meio século se passou dos anos 70 até 2020, neste tempo as TOs se fizeram povo, se avolumaram e ocuparam todas as grandes cidades do país, sendo responsáveis por belas festas dentro dos estádios e representando grandes contingentes da juventude periférica. Em nosso estado as torcidas estão em todas as zonas e bairros da capital e fazem parte, de um modo ou de outro, do imaginário de todos que com elas tem contato, seja no estádio, na rua ou apenas nos noticiários. Por mais que na maior parte do tempo a política enquanto disputa por hegemonia de discursos (antifascismo x fascismo, esquerda x direita) não faça parte das principais agendas dos torcedores, questões políticas mais gerais continuam a atravessar a vida desses sujeitos. Periféricos como são em maioria, os torcedores organizados enfrentam diariamente a batalha por uma vaga no mercado de trabalho, por moradia digna, por direito a segurança e acesso aos direitos mais básicos, que o estado insiste em não garantir. Esta juventude enxerga nas cores de sua torcida e no ambiente que as TOs proporcionam um terreno fértil para dar vazão a suas potencialidades e descarregar suas energias, produzindo afetos e identidades coletivas. Organizam-se para juntos driblaram as dificuldades de acesso ao estádio, para se proteger da repressão ou de um ataque das torcidas rivais e para, quando necessário, impor respeito e gritar que juntos são fortes.

A força e potência que emana desses grupos de jovens organizados nunca passaram despercebidas aos olhos das elites econômicas e dos defensores da moral, e por isso as torcidas organizadas são historicamente perseguidas pelas forças repressoras do estado, por setores da sociedade e pela mídia, que há décadas é protagonista na construção de uma narrativa que criminaliza esses grupos. O senso comum reproduz sem ressalvas o discurso que ataca as torcidas por atos ditos violentos, mas fecha os olhos para todo um cenário de negação de direitos e de violência imposta em uma sociedade desigual que geram uma crescente escalada da violência no país, como se as TOs estivessem apartadas do cenário geral da sociedade.

Os componentes de torcidas organizadas, ainda mais os do nordeste brasileiro, já carregam consigo uma série de demarcadores sociais que os colocam como alvo prioritário da repressão do estado. Esses jovens, em maioria negros e periféricos, já são visados por serem quem são e por virem de onde vêm. Quando vestem uma camisa de TO são ainda mais, pois representam uma força coletiva muito mais perigosa para os defensores da “ordem”. Por isso são vítimas de abordagens violentas ou desproporcionais, sem muitas vezes haver sequer um conflito prévio que justifique a ação. Além disso, existem também as constantes tentativas de extinção de grupos organizados específicos, ou até mesmo uma proibição total da existência deste tipo de organização.

As TOs são, portanto, importantes espaços de organização da juventude periférica, que, além de terreno fértil para florescimento de lutas, são também um importante reforço para a massificação de atos e de combate ao racismo e fascismo, mas é importante que isto aconteça segundo uma agenda própria dos grupos organizados e não por pressão de pessoas estranhas as TOs cobrando-as por um posicionamento e por ação direta, sem levar em consideração a criminalização previamente existente a esses sujeitos e aos CNPJs de suas instituições.

É importante que setores da esquerda que agora, encantada pela ação das torcidas do sudeste, voltam seus olhares para as TOs como um espaço de potências para a luta social, esteja disposta também a olhar para estes sujeitos de maneira humana e menos colonizadora em sua vida diária, se colocando como aliados se posicionando contra a criminalização e estigmatização das torcidas.

A Resistência Tricolor, sempre buscou o diálogo com as TOs do Fortaleza Esporte Clube, mas respeita a caminhada de cada uma, sem nunca impor nosso pensamento ou modo de agir. Vemos com bons olhos a movimentação de torcedores organizados pelo país e nos alegramos a cada posicionamento progressista vindo dos torcedores do nosso clube. Portanto reiteramos nossa parceria na arquibancada e nas ruas sempre que preciso.

4- "A cabeça pensa, onde os pés pisam": Um convite à ousadia!

Desde que foi fundada, a Resistência Tricolor tem demonstrado sua veia de arquibancada e de presença nas ruas. É importante destacar essa dupla identidade coesa, uma vez que diversas suposições são feitas a respeito da conduta e do lugar onde os/as nossos/as integrantes pisam e como eles têm que atuar, sobretudo de pessoas que apressadamente tentam diminuir nossa capacidade de mobilização, atitude e coerência ao nos adjetivarem negativamente de “movimento estudantil que agora vai ao estádio de futebol”. Além de infundada, a crítica desconsidera o papel que o movimento estudantil tem e teve no Brasil. Em 1942, por exemplo, estudantes ocuparam e tomaram a sede do Clube Germânia, principal reduto dos nazifascistas do Rio de Janeiro. Em 1º de abril de 1964, uma das primeiras ações da ditadura militar foi de metralhar a sede da União Nacional dos Estudantes, evidenciando a força e o temor pela UNE.

Você que diminui as organizações sociais chamando-as desmerecidamente de “movimento estudantil” não percebe que atenta contra a vida, a memória e a justiça de Helenira Rezende e Honesto Guimarães, torturados e mortos por defenderem as liberdades sociais, aqui incluso o direito ao lazer e ao esporte, de ir ao estádio de futebol, torcer e se organizar. É evidente que críticas podem e devem ser feitas. É esse o suprassumo da democracia, forma de sociedade e de valores humanos tão ameaçados no Brasil, sobretudo no atual governo Bolsonaro que se elegeu através de discursos de ódio e mobiliza seus apoiadores por meio de ações e convicções declaradamente fascistas. A oposição da Resistência Tricolor as ações que atentam contra a vida das populações pobres, pretas, periféricas e indígenas não é de hoje. Desde 2018 nos encontramos em atos pela educação, pelos direitos sociais, pela liberdade das mulheres, no #EleNão e em outras diversas manifestações e ações públicas. Há dois lugares que a Resistência Tricolor não arreda o pé, são eles: setor superior central divisa com a Jovem Garra Tricolor e nos protestos pela melhoria da vida do povo cearense. Contudo, para que a gente possa voltar a ocupar esses espaços, é preciso manter os nossos VIVOS! Entre outros inimigos a enfrentar, estamos combatendo uma forte pandemia que há mais de 100 anos não acontecia em nossas terras. É preciso entender que em uma sociedade desigual como a nossa, todos os acontecimentos atingem diferentemente as pessoas. Não estamos no mesmo barco. A população pobre, preta e periférica é a que está mais exposta ao risco do COVID-19 uma vez que não tem assistência básica de saúde, possibilidade de permanecer em casa ou condições de cumprir o distanciamento social indicado, sem acesso à água encanada... ou seja, sem os direitos mínimos que somente a classe média ou a elite usufruem. A Resistência Tricolor tem um compromisso em manter a coerência com os seus pares, e desde o início da pandemia estamos batendo na tecla da necessidade de cumprir o isolamento social, nos posicionando a favor do lockdown, como medida de proteção à nossa população e forma mais rápida de vencer o vírus.

Devido a tudo isso até aqui exposto, por mais que as ruas nos chamem, por mais apoio que sabemos que teríamos daqueles que querem combater o racismo e fascismo desse governo inescrupuloso, enquanto organização, a Resistência Tricolor não convocará seus integrantes pras manifestações que deverão acontecer nos próximos dias, cumprindo a responsabilidade social que nós conquistamos nesses poucos anos de existência da RT. Não podemos cobrar a exposição ainda maior daqueles que já se encontram em situação de risco cotidianamente, piorada as condições de vida em um Ceará cada vez mais atingido pela pandemia. Contudo, é certo que muitos de nós desejam ir às ruas, convictos que não temos nada a perder, a não ser as correntes que nos prendem a essa estrutura desigual. É uma decisão, portanto, individual. Cada um deve mediar a relação de pôr a própria vida em suspensão, não podendo ser uma convocação de nenhuma organização. Todos e todas sabem que a mudança da política nacional não depende somente de um ou outro movimento. Os/as integrantes da RT são conscientes dos limites de nossas ações, por isso se articulam em seus bairros, favelas, ruas e conjuntos residenciais.

É somente com frentes amplas e massivas que esse governo ruirá, contando desde já com o apoio da Resistência Tricolor em qualquer lugar do país, sem clubismo ou preferência partidária. É certo que muitos de nós lá se encontrarão no ato contra o fascismo, mas por decisão própria.

Enquanto isso, fazemos uma convocação para que você participe das ações da Resistência Tricolor que buscam ajudar a população local que se encontra em estado de vulnerabilidade social agravada por conta da pandemia. A "Quarentena sem Fome" já é uma ação que vem rendendo frutos e nós precisamos da sua ajuda. O combate ao racismo e ao fascismo se faz em diversas frentes, em diversos campos, como viemos apresentando a todas e todos desde 2017. Construa esse momento conosco. Cuidemos dos nossos. Sem comida na mesa não há luta antifascista!

 É preciso, por fim, deixar claro que o posicionamento da Resistência Tricolor reflete a nossa análise da conjuntura até o dia de hoje. Como sabemos, o cenário político se encontra cada vez mais nebuloso e acelerado, e em poucos dias tudo pode mudar. É preciso analisar diariamente o momento que vivemos, para que reflitamos sobre quais as medidas que devemos tomar enquanto organização antirracista e antifascista. Vamos juntos. O combate ao racismo e ao fascismo vencerá! Contem com a Resistência Tricolor, cheguem junto com o nosso movimento nas ruas e nos estádios. Abraços fraternos e saudações tricolores!


Att,

Resistência Tricolor.


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