Com tanto poder maligno acumulado ali, paralisaram-se instantaneamente pelo medo. As bruxas logo começaram a rir dos rostos de pânico dos caçadores e a líder daquela liturgia pôs-se a frente deles com seus olhos rubros.

- O fogo quer queimar, a água quer fluir, o ar quer se erguer, a terra quer unir e o caos quer devorar – ela disse com um sorriso diabólico em seus lábios. -

Os caçadores, confusos, não entenderam que a mesma se referia aos deuses pelo qual aquele derramamento de sangue estava prestes a acontecer. Alguns deles começaram a chorar e pedir misericórdia pelas suas esposas e filhos.

- Por que eu deveria ter misericórdia de vocês? O seu rei alguma vez teve compaixão pelas minhas irmãs que jogou na fogueira? – respondeu com raiva em sua voz. - O grande rei e seus antepassados sempre os disseram para ficar longe da magia, por que não obedeceram? Ah, já sei! Nas histórias contadas sempre existe um grupo corajoso e justiceiro que quer proteger seu povo, mas adivinhem só? Vocês deveriam ter dado ouvidos a sua majestade, pois é pela magia que vocês tanto caçam que irão morrer hoje. – suas palavras foram cuspidas em desdém. – matem todos, mas não toquem neste jovem. – tocou a face do menino e se retirou.

Gritos de agonia e horror eram ouvidos pelo rapaz que assistia tudo aquilo sem poder fazer nada por seus companheiros, era o que a bruxa pensava. Ela tinha sentido algo diferente vindo do garoto, mas não se deu conta que era magia. A mulher não sabia que o jovem tinha sido criado por uma feiticeira e, por causa disso, sabia usar ocultismo. Fora forçado a entrar no grupo dos caçadores assim que foi resgatado pelos soldados do reino, mas nunca usou sua força contra nenhuma delas.

O menino então usou sua magia de modo despercebido para pedir reforços, tudo na esperança de conseguir salvar seus poucos irmãos de farda que restaram. Tendo feito isso, se desfez do feitiço e ergueu-se, acabando por atrair a atenção de todas elas para si.

- Peço que parem com o sacrifício – disse ele com a voz fraquejando.- Fui criado por uma bruxa e por isso aprendi algumas bruxarias. Eu era muito novo e estava quase morrendo de fome após sua morte, foi aí que os guardas do rei me encontraram e cuidaram de mim, eles acharam que eu tinha sido amaldiçoado e por isso me forçaram a entrar no exército dos caçadores, mas eu nunca levantei um dedo para nenhuma de vocês. Por isso eu estou avisando que pedi reforços e logo eles estarão chegando aqui, então espero que fujam agora para não serem mortas.

- Por que deveríamos acreditar em você? Está na cara que só está tentando ganhar tempo para salvar esses dois – chutou os soldados - É uma pena que não vai adiantar, eles estão quase mortos.

O jovem então começou a usar sua magia para balançar as árvores. Uma ventania muito forte se iniciou na floresta, a poeira estava subindo, algumas árvores caindo e um furacão estava começando a se formar. 

- Eu pareço estar mentindo? – esbravejou. – Saiam daqui e fujam para o leste agora!

- Por que para o leste? – perguntou a líder recuando perante ao furacão. –

- O rei não se importa com aquelas terras, dificilmente mandará caçadores para lá. – respondeu com suas veias faciais saltando.-

- Garoto, os deuses estão muito enfurecidos com a interrupção do sacrifício, mas por hora irei confiar na sua palavra. Torça para que não nos encontremos novamente, porque eu não terei piedade de você duas vezes. Vamos irmãs, iremos para o leste.

Quando as bruxas sumiram entre a escuridão da floresta, o rapaz acalmou a ventania e caiu de joelhos, esgotado. Fora encontrado chorando, havia falhado em proteger os demais. Naquele dia o menino prometeu que iria se fortalecer para defender seus colegas, ele só teria que descobrir como praticar seus feitiços no reino sem ser descoberto.