Meu Ovelha,

Um dia eu percebi que saudade não é um sentimento vazio. A saudade de verdade te preenche. Se tudo que vivemos juntos valeu a pena, por que não comemorar esse encontro de vidas? Se, de todos os amores, o amor de um animal sempre vai ser o mais ingênuo, por que não celebrar? Quem me dera eu ter escrito essa carta para poder me despedir de você, meu Ovelha. Seu nome diferente combinava com seu temperamento. Seus olhos eram diferentes. Suas pintinhas na barriga eram diferentes. Até a sua braveza era diferente - e fofa. Lembra daquele dia que você me mordeu na perna, achando que eu ia roubar sua espiga de milho? Lembra quando meu pai disse, no dia seguinte, que ia te colocar na rua? Não me importei com o que ele disse, pois eu já tinha te perdoado. O perdão nos deu uma nova perspectiva de convivência. Foi uma vida inteira para você se redimir, como se cada lambida fosse um pedido de perdão. Aposto que você já deve ter se encontrado com seus quatro irmãos aí no céu dos cachorros, mas por aqui você faz falta. E assim como você marcou a minha vida, tem uma marquinha dos seus dentes aqui na minha perna. Contudo, não só nas marcas visíveis eu lhe carrego. Você está sempre comigo nas marcas da alma, nas fotografias e no coração. Desde a tua partida, procuro encontrar-te em sinais ou em outras vidas. 

Pois foram três dias te procurando pela cidade, mas você não voltou. Você nunca voltou. E a saudade que hoje me preenche é a certeza de que o nosso reencontro será muito em breve. 

Com muito amor, saudade e carinho, sua humana,

Louv.