Temendo que uma repressão traria ainda mais ódio e caos, Hela, tomada por profundo sentimento, após decidir ignorar o ataque, foi constantemente bombardeada com insultos e clamores por vingança. Entretanto, a sábia loba sabia que, se nada acontecesse, outros ataques poderiam ser consequência da impunidade.

Mais uma vez, convocou uma reunião com todos os representantes do seu clã. Os pais, com a dor da perda, se levantaram convocando um guerra. Os anciãos, assustados com tamanha violência, decidiram que um ataque furtivo seria a solução mais apropriada. Os jovens, ferozes, ansiavam pelo derramamento de sangue. Hela, porém, não conseguia ver como ações tão drásticas os fariam tão diferentes dos rebeldes. E ela tentou os convencer disso. Infelizmente, não deram ouvidos e votaram por extinguir os rebeldes em três dias. Sabendo que essa decisão apenas perpetuaria o ódio, ela fugiu.

O clã ficou cheio de fúria, por ter uma líder covarde. O conselho, então, elegeu Argo, um poderoso lobo com inúmeras batalhas vencidas para comandar a repressão. Seria um extermínio cruel e sangrento pela honra dos poderosos guerreiros. Pelo menos, era o que esperavam. 

No dia marcado para a batalha, todos se espreitaram pela densa mata até onde seria o acampamento inimigo. O que encontraram, foi apenas um amontoado de presas, mas nada de rebeldes. A insegurança tomou conta do grupo, surpreso pela situação inusitada. Lentamente, Argo se separou do grupo e soltou um forte uivo. Imediatamente, dezenas de lobos saíram de seus esconderijos cercando-os por cima do buraco em que estavam, sedentos por sangue. Um traidor. Esse era o caráter daquele que incentivava aquela demonstração de violência. Agora, não só os filhotes, mas todos os integrantes daquele clã seriam mortos.

O medo imperava ao lado de rosnados e grunhidos selvagens. Em fração de minutos, estariam sendo atacados por todos os lados, e, sem uma liderança, não seriam capazes de sair daquela armadilha. Era a morte quem os esperava de braços abertos, não sua vingança. 

Pelo menos, não seria naquela situação que receberiam o doce beijo da noite eterna, já que um forte estrondo os assustou, seguido por uma loba correndo a toda velocidade e dezenas de humanos furiosos montados em seus cavalos e armados até os dentes. Por estarem em um lugar mais baixo, conseguiram se esconder dos olhares de seus perseguidores, enquanto a tribo humana limpava os rebeldes do mapa. Infelizmente, Hela, já cansada, não conseguiu se esquivar de uma lança e foi atingida. Os rebeldes corriam para mais adentro da floresta, enquanto os cavaleiros os perseguiam sem piedade.

Assim que todos já estavam fora do alcance dos lobos do clã, se aproximaram da sua agonizante líder. Temendo outro ataque, ela foi espionar os inimigos e viu Argo comentando seu plano aos traidores. Enquanto observava a situação, tentava imaginar como seus amigos sairiam vivos daquela emboscada. Partiu imediatamente para uma aldeia a cerca de um dia de onde estavam e criou um pandemônio. Assustou animais, crianças, adultos, e até mesmo soldados armados. Assim que viu um grupo sendo formado, voltou para a base inimiga esperando que os encontrasse prontos para começar a armadilha. Por causa da distância, acabou chegando um pouco atrasada e veio a ser atingida enquanto procurava despistar aqueles que poderiam estar a vista.

Uivos se seguiram até um amanhecer. Até que, finalmente, um ultimo uivo, muito forte foi ouvido por toda a região. Hela estava morta. Ainda hoje, séculos após isso, ainda se ouve o vento uivando aquelas notas agudas de uma loba que morreu pelo bem da paz.