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Untitled - posted by guest on 6th February 2020 08:45:18 AM

Devant, eu procurei deixar para te responder depois das 00hs por estar em casa nesse horário, na loja eu paro para atender a todo momento, então eu acabaria me perdendo e deixando pontos para trás sem mencionar. Então, se as vezes eu responder uma pergunta coletiva aqui e ali, não pense que estou desinteressado em te responder, ok? Eu respondo as vezes nas horas vagas perguntas breves e sem profundidade na loja, e deixo para responder coisas sérias e importantes em casa. 


Enfia uma coisa na sua cabeça, você não é fraco demais. E eu não falei da minha vivência para você se denegrir em comparação a elas, comentei justamente porque também me identifico muito contigo com as crises familiares e consigo próprio que você já me descreveu viver, me senti falando de igual para igual em todo momento, não como alguém superior ou mais forte. As vezes uma dor de cabeça em mim pode me jogar de cama e me fazer pegar um atestado de 3 dias, e a mesma dor de cabeça dar em você e tu conseguir ir trabalhar e seguir a vida. As adversidades afetam cada um de uma maneira, em intensidades diferentes, não da para generalizar e comparar num ranking, as vezes o que não me derrubou derrubaria você, mas o que você suportou me derrubaria, entende? 

E mano, tu disse que eu passei pelo mundo e o fundo e sigo tentando, e tu, faz o quê? Tentando mais do que você impossível, tentou resgatar sua mãe e conscientizá-la de que precisava sair daquilo tudo, não conseguiu, então procurou fazer por si, porque tudo o que vivia o estava matando por dentro e te amarrando, você pegou a cara e a coragem, 300 conto ou sei lá quanto e saiu pro mundão, abraçou o desconhecido, pisou em terreno estranho e foi atrás! Perdeu emprego e não desistiu, você persistiu em dar certo fora do ambiente destrutivo da sua casa, isso mostra não só a sua determinação, perseverança e capacidade, como um fato importante, você ainda se ama e se respeita o suficiente para não se sujeitar a uma vida de maus tratos e auto renuncia, isso é importantíssimo! 

E por mais que tu, assim como eu veja a vida em diversos momentos, sem sentido nenhum e não entende porque está vivo e tudo mais, você segue tentando se manter vivo da forma mais digna possível, o que também aponta para a ideia de que um suicida não quer se matar, ele quer matar o que o sufoca, o que o fere e oprimi. 

O nosso histórico é muito pesado, passamos por coisas muito marcantes negativamente, fomos condicionados a nos sentir fracos, fracassados, co-dependentes e etc... e tudo isso faz com que um lado do nosso subconsciente sempre tente regredir e sempre entre em modo de auto defesa, achando que se refugiar e se acomodar em algumas situações seja melhor do que se arriscar ao novo que pode ser uma melhoria de vida. Por isso que todo os dias a vontade de desistir, a vontade de se matar, a sensação de que não adianta tentar bate na porta com toda força, mas a prova viva de que não estamos regredindo, é estarmos levando da poha da cama todos os dias mesmo contra a vontade e saindo pra dar a cara a tapa no mundo em busca do nosso pão e dignidade. Eu penso em desistir, eu vejo a vida sem significado, eu penso em suicídio e me sinto sufocado em diversos momentos, mesmo agora que estou realizando um sonho antigo de ser pai, me sinto muito mal comigo mesmo por isso, mas seria hipocrisia dizer que tá tudo as mil maravilhas só porque estou realizando isso e aquilo, mas eu não desisto, eu busco me agarrar em migalhas que seja do que me proporciona alegria, aconchego e satisfação por estar vivo e nisso vou seguindo e não vejo você ser diferente de mim nisto. Ambos estamos seguindo em frente, ambos estamos persistindo, cada um lidando com suas feridas e limitações, isso é razão pra se orgulhar, razão para olhar para traz e ver o quanto tem progredido e do quanto ainda pode ser capaz ao dizer basta para o que não te vai bem. 


De fato, mortos não nos decepcionaríamos, não nos machucaríamos, não seríamos cobrados de responsabilidades maçantes e etc... Mas não curtiríamos uma boa música, não daríamos gargalhadas com amigos e vídeos idiotas, não iríamos vislumbrar o por do sol, o cair da chuva, o sabor de uma boa comida, o cheiro gostoso de um bom perfume, o calor de um abraço, não sentiríamos prazer, não nos sentiríamos amados, não receberíamos carinhos e carícias... não estar vivo nos priva de tudo que é ruim, mas também nos priva de tudo que vale a pena, nos priva de experiências únicas que só pagando o preço de estar vivo é possível vivenciá-las. 

Você está com medo do desconhecido e as vezes prefere se acomodar no que já conhece mesmo que não esteja te satisfazendo, eu entendi sim, normal, todos nós somos assim, eu imagino. Mas veja, graças ao desconhecido que você abraçou, saiu da sua casa que vinha fazendo você definhar e já há mais de ano fora de casa não precisou juntar as malinhas e voltar para lá, o desconhecido está sendo árduo, mas você não está regredindo em busca de sua independência e como assim não tem perspectiva de vida? Mano, sugiro a você, usar seu dinheiro para os gastos essenciais como contribuir com água, luz, net, água e comida e o que conseguir reter, não gaste, vai juntando, faz uma poupança pra render um jurinho pra tu conseguir alugar um canto pra você sem depender de amigo ou pra de repente dar entrada e financiar um veículo próprio, mesmo sendo usado no começo pra tu ter autonomia de ir e vir, inclusive há muitas vagas boas de emprego que exigem habilitação e veículo próprio que tu poderia abraçar, inclusive um trampinho de uber nas horas vagas de repente... o trampo é maçante? Geralmente é, poucos são os que trabalham no que realmente os satisfazem, mas você pode buscar estímulo em continuar, vendo que através desse trampo chato, tu pode cursar algo para atuar numa área melhor, juntar para uma viagem super daora, se dar ao luxo de comer num lugar bacana, de repente até conhecer alguém legal num rolê desses... enfim, sem perceber alguma perspectiva você já tem, que é não voltar para sua casa e poder ajudar aquela garotinha que tanto estima, já pensou que legal você ter autonomia para levar ela para passear, lhe comprar um brinquedo maneiro e se pá até investir em um tratamento ou escolinha para ela progredir socialmente (isso é realmente possível). Tu precisa canalizar essa dor e essa auto depreciação, bater de frente com elas para ver que está sim sendo capaz de muito! 


Quando não estiver bem, naquele dia daqueles em que só pensa em desistir e abraçar a morte, me cutuca aqui na inbox, me chama pra prozear, xinga, desabafa, põe pra fora! Eu nunca vou te julgar e o mais breve possível virei responder, promete me chamar por favor? 

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