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Texto - posted by guest on 28th November 2020 05:49:15 AM

Quando o ciúme do rival encobre desejos inconfessáveis...

Em guerras e em ódios profundos, se tenta negar a existência de alguém, reduzindo-o a um objeto de extermínio – assim como engolimos ou defecamos. Me refiro aqui ao ódio avassalador que um dia foi amor. O amor do avesso. O amor chacinado. É uma forma de tentar aniquilar o amor que sentem por alguém. Por vezes, faz parte das cenas de um verdadeiro teatro de horrores enredar o outro nos meandros de seus ciúmes delirantes, produzindo ataques movidos pelo ódio irracional (se é que existe ódio racional). É preciso escoar sua maldade para algum lugar fora de si – no caso, para a pessoa amada e odiada em questão. Isto está a serviço da manutenção, para si mesmo, de que esse outro amado/odiado porta defeitos de caráter imaginados que conjuram seus desejos mais inconfessos por seu suposto rival... Põem-se, então, a tecer intrigas que justifiquem demonizar a ambos para não sentir o peso de sua própria pequenez e nem permitir que seus reais desejos advenham à consciência...


É mais comum acontecer de mulheres serem consideradas a encarnação do Mal para que o homem se sinta autorizado a perpetrar qualquer ação doentia em direção a ela. A pessoa que é alvo desses ataques fica estarrecida com a fúria digna de um acesso de loucura. No entanto, o tempo mostra, inexoravelmente, que algumas criaturas que cruzam o nosso caminho são totalmente desnecessárias: não agregam nada, não têm nada para trocar, nada para viver. São a face mortífera das múmias ou fósseis (pois estes ainda possuem ensinamentos para outorgar, há neles uma morte viva). Porém, os vivos-mortos não carregam nem uma lição a dar, sequer, mergulhados que estão em ninharias. São estéreis no amplo sentido do termo. Então, quando nos deparamos com a baixeza humana, no sentido de realizar que ela é uma forma de violência travestida de (des)amor, aí sim é possível matar simbolicamente o autor de tanta hostilidade na forma de desvarios. Sem lamento fúnebre. Sem saudade. Sem olhar pra trás.

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