"Acordei às 5h00 da manhã para ir à escola, tomei banho, tomei café... Aquela rotina diária chata! Eu estava a caminho da parada de ônibus, sem um ser vivo por lá! Passou-se cerca de 10 minutos e chegou um menino, alto, bonito, sorriso encantador e simpático. Conversei com ele, peguei o telefone, se chamava Caio, ficamos aguardando nosso ônibus passar. Até que, de repente, parou um carro e o Caio, sem dizer nada, entrou no carro rapidamente! Fiquei desesperada! Mais tarde, chegou uma mensagem no meu celular que dizia..."

''Desculpa ter ido embora assim sem dizer nada, mas eram assuntos de família, teve mesmo de ser''. Achei estranho pois ele pareceu-me muito assustado ao entrar no carro mas respondi-lhe que estava tudo bem.

Nesse dia ele não foi à escola e nem me respondeu o resto do dia. Ao ir para casa passo sempre pelo bairro pois é mesmo junto à minha casa e vi o mesmo carro em que ele havia entrado de manhã, comecei a criar ideias na minha cabeça mas não quis julga-lo então preferi não dizer nada. No dia seguinte, voltei com minha rotina. Lá estava eu esperando o ônibus quando ele chegou todo animado a falar comigo e disse que deviamos almoçar juntos, eu aceitei. Estudamos na mesma escola mas somos de turmas diferentes, nos intervalos ele passava por mim e sorria e eu igual, começamos a trocar mensagens por volta das 11h onde ele me perguntou se sempre iríamos almoçar, eu disse que sim. Conversámos até à hora de almoço e fomos almoçar a uma pizzaria perto da escola, ele pagou o almoço mesmo sem eu querer. 

Ao longo dos dias fomos repetindo este tipo de coisas, trocávamos mensagens noite a dentro, costumávamos ir passear, entre outras atividades… mas ele sempre tinha um comportamento estranho, por vezes do nada recebia uma mensagem qualquer e dizia que tinha de ir embora, desaparecia da escola durante horas, coisas estranhas. Um dia foi a gota de água para mim, estávamos a almoçar na pizzaria onde praticamente a nossa relação começou e o tal carro que ele havia entrado à uns tempos atrás parou à porta, ele recebeu uma mensagem e pediu-me desculpa mas que teria de ir. Eu como já estava desconfiada de algo, decidi segui-lo, subi para uma bicicleta que estava na porta do restaurante e fui seguindo-o, consegui acompanhar pois o carro ia devagar e não foi para muito longe. Lá estávamos nós no tal bairro perto da minha casa. Ele saiu do carro com mais 3 homens com um aspeto estranho, cheios de malas e a fumar droga, entraram numa casa que tinha um monte de outros homens cá fora no quintal a beber, ouvir música típica de bairro, fumar, contar dinheiro e até armas em cima de mesas tinham. Não queria acreditar que ele estivesse metido em tal coisa, fui para casa. 

Algumas horas depois recebi uma mensagem dele, a pedir novamente desculpa e a perguntar se me queria encontrar com ele depois de jantar, aceitei apenas porque queria ser honesta com ele. 

Quando chegou a hora encontramo-nos num parque a que costumávamos ir juntos, ele estava todo feliz a perguntar como o meu dia tinha corrido, a por conversa sobre coisas que sabia que eu gostava, e eu ali com um nó na garganta a querer arranjar forma de lhe dizer que o segui. Ganhei coragem e interrompi-o e disse o que tinha feito e visto. Ele ficou chocado por eu o ter visto ali, ficou uns 5 minutos em silêncio e eu só lhe dizia se não me ia explicar o que se passava. De repente ele começou a falar sobre o assunto e contou-me tudo, disse que infelizmente nasceu numa família de traficantes, que ele sempre se opunha a isso daí ele ocultar suas origens e que estava aceitando ultimamente trabalhar com eles pois estava juntando dinheiro para desaparecer dali. Fiquei triste porque não o queria perder mas entendi a sua posição, falei com a minha mãe mas sem lhe contar detalhes, e ela arranjou-lhe um emprego na sua empresa, assim ele poderia partir mas com um trabalho certo e com dinheiro justo e limpo. 

Meses se passaram ele evitava ao máximo ter contacto com esses meios, por vezes chegava com marcas à escola por conta de se opor à família mas finalmente ele tinha juntado o dinheiro que precisava para começar do zero em outro lugar, a escola estava quase terminando já apenas faltava uma semana e ele tencionava partir depois dela. 

Escusado será dizer que nós aproximamo-nos muito com o tempo e que até começamos a namorar e o facto de saber que ele iria partir não só me deixava triste por não o ter por perto, como por outro me deixava feliz por saber que ele não ia mais sofrer.

Os dias foram se passando, os meus pais agradeceram lhe muito pelo seu trabalho e por me ter dado imensas alegrias e depois fomos deixa-lo no aeroporto, o voo dele atrasou, e este tempo do atraso fez me perceber que queria ir com ele pra onde quer que fosse, então falei com os meus pais e eles compreenderam, fui a casa fazer as malas e fui para o aeroporto o mais rápido possível. 

Ele ficou muito surpreendido mas muito feliz, vamos finalmente poder ser felizes a cem por cento.