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Untitled - posted by guest on 26th October 2020 06:38:03 PM
Lembro-me exatamente de como nos conhecemos. Imaginei que serias apenas mais um encontro casual na minha vida, mas o quão errada estava errada. Despertaste o meu interesse, da tua forma, tão diferente comigo. Não logo, pelos truques que a vida me passava, mas quando foi, foi de repente e incontestável. De uma forma, foi mais um truque na minha vida, mas um que terminaria metade das minhas angústias de que há tanto me desejava livrar. Não demorou muito para eu perceber que a tua ausência me doía, que a tua voz me acalmava, e organizavas o meu dia, desorganizava-os com a falta de presença. Queria a tua companhia, que as tuas histórias me fizessem sonhar e gargalhadas me fizessem tranquilizar o coração, enquanto me tratavas bem, e eu me vinha por ti. Foi o começo de um caos que talvez eu nunca irei saber bem como explicar. É como dar a uma criança o doce mais saboroso e atraente pela primeira vez, e a desgraça que seria se então houvesse alguém a arrancá-lo à força, sendo-lhe tirado tudo o que havia cativado o seu pequeno coração. E ele é intenso e apegado, um coração muito, mas muito mal habitado. Não sei se foi o destino que quis, ou se mesmo foi o esforço de ambos para o conseguir começar, mas durante estes meses que passaram desde do nosso conhecimento, todas as noites eu repasso tudo que acontece e tento achar o que me fazia sentir mal, e como poderia consertar-me. Alguns dias foram completamente exaustivos sem ti, e agora são ainda, sem a tua voz, mensagem ou o mero silêncio, mas presente. No começo não consegui ocupar a minha mente de outra coisa, mas sempre que me via a fazê-lo, era contigo. E hoje aplica-se ainda mais, quando faço algo que goste, ou que não, tenho vontade de te contar e de te incluir.
Devo ter digitado mais de dezenas e dezenas de mensagens para ti que nunca chego a enviar, às vezes o que não se diz é torturante e pode-nos desconsertar. A minha falta de coragem surpreende-me com assuntos tão estranhos para mim e não estou habituada a dar o primeiro passo, ou a dar o braço a torcer, honestamente. Mas perdi o medo de te procurar, mesmo que não diga o porquê, procuro-te sempre ou tento encontrar. Tudo é mostrado, e aprendi que isso é mais importante.
Pedi-te que me embalasses e, desde a primeira vez, a brincadeira transferiu-se à minha honesta necessidade, de alguém que seja suave, sem pressa, que me faz enxergar a calmaria nos aspetos do coração. Eles afinal podem ser dignos de uma paz e há bravura nisso. Existe coragem em alguém que trate do meu caos e intensidade muitas vezes, e a desorganização dos meus pensamentos, que os estruture e os amenizasse um pouco. As minhas guardas passadas estão lentamente a ser vencidas, porque me sabe melhor sentir-te do que perder-te de todo. E já alguém me dizia “todo o trabalho que te eu tive para outro ter o mérito”, enquanto me tentavam perceber e me fazer mudar o meu desejo de não ter ninguém e sozinha ficar. Esse despertar pode ter começado algures, mas o mérito não deveria ser de ninguém mas teu. Tens todo o prazer de o ver florescer, pela forma como me regas e cuidas de mim. Podes ser dono de muitos avanços, e também recuos e desavenças mas estou pronta para eles. E tu estarás para os meus?
Eu não quero que nenhum dia mudes por mim, quero que te adaptes, e que eu me adapte assim, às nossas mudanças repentinas e às diferenças que nos separam. Não considero que divisão nenhuma irá vencer a necessidade que temos da união. No final do dia, o meu corpo deseja estar unido ao teu e arrepio-me de o pensar.
Acho que o nosso primeiro encontro e toda a nossa relação se formou de um género de escapatória, um ponto ideal, e continua a ser, continuará a ser. Mas isso não o faz ser menos bonito e real. O foco continua a ser as nossas felicidades, e o que sentimos juntos. Até pode ser distorcido, não normativo, mas penso que fique mais forte com cada discussão, por principalmente envolver uma resolução, e na resolução sabemos, que há esforço e desejo de nos mantermos na vida um do outro. Que seriamos capazes de nos destabilizar e logo rapidamente encontrar os braços, unicamente os de um e do outro. Seria suficiente olhar para as razões com que nos desentendemos, para chegar à simples resposta do medo de perder, e a raiva que vem envolvida da provocação. Provocação de querer despertar o mesmo nível de desespero que tenho por ti. Quero saber que me desejas e que faço um peso escandaloso nas tuas emoções. Como fazes nas minhas. E mesmo magoada com a vida, entreguei-me a uma nova oportunidade. Deixei tudo o que me afastava dela; deixei quem nunca me iria conseguir ver ou cuidar de mim da mesma forma que tu. E por isso, não me arrependo. Não tenhas a pressão de cuidar de mim nos teus ombros, eu sei que irei cuidar de mim mesma. Sei que os velhos hábitos ficam dentro da carne do meu corpo como nicotina nos pulmões do meu pai. E nunca vi ninguém fumar tanto. Mas, não o faças. Não cuides de mim, digo eu, se não o quiseres. Mas peço-te que o faças. Aceitas as contradições? Sei que se não fores capaz de aceitar, os outros também não serão capazes. Simplesmente, não são capazes de me conhecer assim e me querer de uma forma tão boa e consistente. Talvez até o sejam, mas não sinto que sim, e isso é o que importa.