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Untitled - posted by guest on 26th June 2020 03:40:58 PM
Langrose + Habborn Hotel
Atípico seria o final do maior arquétipo de uma verdadeira novela no qual o Titanic chocaria contra um iceberg, o qual acabaria por acarretar na mais funesta consequência de todos os tempos: a perda de milhares de vidas para um insignificante fragmento de gelo — note-se, porém, que ninguém fugiu diretamente à morte: brancos ou pretos, ricos ou pobres; ninguém fugiu à trágica morte, o medo que nós todos mais tememos.
Ninguém havia planeado aquele incidente e muito menos se esperava que tão grandiosa obra criada pelo Homem fosse capaz de ceder tão facilmente à força da Natureza, isto, porque o Titanic era o expoente máximo que alguma vez nós, humanos, conseguimos alguma vez atingir para alcançar a nossa ilustre grandiosidade. O certo é que tudo foi em vão: como um simples castelo de cartas, bom, cedemos e ruímos, falhando.
No entanto, eis o importante: o que mudaria eu se pudesse? O início? O meio? Ou até mesmo o fim? São inúmeras as possibilidades e os cenários possíveis de inventar para modificar o rumo da história consoante a necessidade. Há um vasto leque de chances em que podemos alterar a ação do nosso Titanic — de forma irreversível, claramente. Com efeito, vejamos a partir de então um novo desfecho para o nosso querido navio:
"O Titanic velejava a todo o vapor, rasgando as águas a toda a velocidade em direção ao paraíso. Por onde quer que passasse, o navio de cruzeiro deixava um grotesco rasto de espuma, o que, de certa forma, embelezava a paisagem ao desenhar grandes linhas atrás de si. Em simultâneo, um pano de fundo alaranjado cobria o céu e todos podiam observar a magnanimidade daquele pôr do sol derradeiro e magnífico: todos podiam contemplar a beleza de um panorama estonteante e sem igual — único e exclusivo.
As gentes misturavam-se no convés, onde nele afluíam as distintas camadas da sociedade — eram um autêntico microcosmos social. Nele cantavam, bailavam, saboreavam o prazer da dignidade da vida humana. Felizes eram aqueles que aproveitavam a mágica viagem no grandioso Titanic. Porém, nesse mesmo crepúsculo, já quase noite, um grande obstáculo opunha-se ao continuar da viagem: uma densa camada de nevoeiro obstruía o campo de visão e nada daí em diante se observava. Navegavam às escuras.
Com muito cuidado, o navio de cruzeiro abrandara a velocidade e penetrara na bolha de nevoeiro que impedia que todos vissem. A festa acalmou e todos permaneciam intactos, observando o grande bloqueio de visão. Daquilo que pouco conseguiam visualizar, o seu redor era misterioso e tenebroso: ouviam-se as ondas a baterem contra o batel e, num ímpeto, um arrepio percorre a medula espinal de todos conforme conseguem ouvir uma pequena voz de fundo, uma espécie de um choro melodramático... Mas...
Não se sabe ao certo o que efetivamente era. Ou um choro tão, mas tão penoso e carregado de dor e angústia ou um cântico deveras estranho e arrepiante. O barco transitava entre a névoa e todos permaneciam ainda no convés, parados e a observar tudo em seu redor. O nevoeiro parecia nunca mais acabar, como se quase infinito fosse. Era impossível permanecer naquela inquietude por tanto tempo, tanto que, fim ao cabo, optaram por retomar a festa e a convivência no salão nobre do Titanic. E fim."
Mas, afinal, Langrose, por que motivo a história termina desta forma? Tão simples quanto isto: pelo simples facto de a história não ter um fim definitivo. Depois de terem penetrado na densa redoma de nevoeiro e terem optado por retomar a festa, o Titanic igualmente se deixou levar e infinitamente foi. Algures no oceano Atlântico, entre Queenstown e Nova Iorque, o grandioso Titanic pode ser encontrado por lá ou, então, até mesmo navegando por outras águas que não aquelas. Ele foi-se.
O Titanic tornou-se num barco fantasma e consigo levou a sua história: memorável e inesquecível. Passaram a fazer parte do seu próprio conceito e a viagem nunca mais fim tem: bom, pelo menos não tem um fim definitivo e certo; e a festa assim continuou e assim perdurará até que o nosso navio de cruzeiro por excelência volte a entrar nos eixos e retome a sua definitiva rota. Até lá, encontrar-se-á perdido pela imensidão do infinito.
Podemos vê-los, às vezes, ainda a bailar e a festejar a digna vida que têm. Felizes, cantando, dançando e aproveitando. Entre a espuma e o nevoeiro ainda se vêm pequenos takes do Titanic e de toda a sua exorbitante beleza. Não é senão, a mais pura e mais digna obra-prima de todos os tempos. A fama daquele que se dignava como inafundável. O Titanic.