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Untitled - posted by guest on 29th March 2020 01:31:05 AM

Las Vegas, NV, EUA.

2:55 AM.

Point of View: Prianka Doreen Maddox.

Meu corpo tremia sob a luz do luar. Respirava fundo cada vez que minhas botas surradas afundavam-se na terra úmida, e então me perguntei de onde vinha tanta coragem para cometer tal ato.

Parei por um segundo, engolindo em seco e secando as mãos suadas na calça jeans. Decidi tentar esquecer o fato de que haviam uma porção de cadáveres ao meu redor, e me atentei ao que realmente vim fazer nesse cemitério abandonado.

No segundo seguinte, uma rajada de vento frio tomou conta do lugar, arrepiando-me dos pés a cabeça. Aperto os olhos com força, logo desconsiderando toda a informação que recebi anonimamente pelo celular. E se não for verdade, e sim, alguma pegadinha de mal gosto feita pela própria Roxanne?

— É. — sussurrei, pensando melhor. — Como sempre sendo burra e caindo em qualquer história mal contada, Prianka. Parabéns!

Revirei os olhos dando meia volta e pronta para dar o fora daquele lugar medonho o mais rápido possível.

Um. Dois. Três. Quatro passos.

Parei. Mas e se fosse mesmo verdade? E se ela estivesse mesmo em perigo? Sabia que ela era metida com coisas ruins, embora tivesse o coração bom. Roxanne morreria por minha causa e eu não aguentaria levar essa morte nas costas; ela estava grávida!

— Não, não e não! — bati o pé, choramingando. — Que droga! Mereço mesmo me ferrar.

Virei novamente para refazer o caminho, ignorando qualquer pensamento que pudesse me fazer dar para trás.

Não escutava um barulho sequer. O cheiro desagradável incomodava, então andei mais rápido até ver as lápides que quase não existiam mais de tão velhas. Contei até a terceira da direita para a esquerda como me instruíram, e segui a reta até estar completamente dentro do cemitério.

As luzes fracas dos poucos postes que iluminavam o local foram desaparecendo conforme meus passos largos, enquanto as grandes árvores balançavam freneticamente fazendo aquilo tudo ficar ainda mais assustador. Que merda, estava quase fazendo xixi nas calças!

— Você deve temer apenas os vivos, pequena.” — a voz do meu pai me veio à cabeça, com meu coração apertando devido a lembrança.

Avistei uma parede suja com alguns rabiscos e pichações sem sentido. Olhei para o lado e para o outro sem saber o que fazer e para que lado ir, mas o barulho de um galho quebrando chamou a minha atenção.

Estava passando mal. Passando mais que mal.

— Que seja uma pegadinha, que seja uma pegadinha... — implorei. — Pelo amor de Deus.

Outro barulho. E outro, e outro...

 Minhas mãos começaram a tremer sem parar quando me dei conta do que realmente estava acontecendo. Engoli o choro tentando empurrar o medo para longe, mesmo que não tenha adiantado nada.

Seja o que Deus quiser.

Apressei os passos, decidida a achar de onde vinha o barulho e disposta a acabar com aquilo de uma vez por todas. Escorei-me na parede descascada, olhando para o que tinha atrás dela, me arrependendo no segundo seguinte.

— Roxanne? — minha voz vacilou, mas ela escutou.

Um suspiro saiu entre meus lábios, e o coração palpitou mais ainda quando ouvi o barulho da pá de terra sendo jogada no chão de qualquer jeito, por ela.

— Mana! — sorriu divertida, quando virou-se de vez para mim. — Pensei que tivesse dado para trás, mas conheço seu coração. — deu dois passos em minha direção, mas recuei como uma criança indefesa. — Não me deixaria ser enterrada viva com um filho na barriga, deixaria? — arqueou as sobrancelhas.

Minha boca tremeu. Intercalei o olhar entre Roxanne e o homem que ela desenterrava, assustada demais para pensar em qualquer coisa. Se antes estava com vontade de fazer xixi, há uma hora dessas minha calça já estava molhada e eu nem mesmo era capaz de sentir.

O homem estava vivo, porém não emitia qualquer som e estava machucado demais para até mesmo abrir a boca; parecia ter levado uma bela surra antes de chegar até ali. Seu corpo estava parcialmente coberto de terra, tirando sua cabeça e peito que estavam para fora.

— V-você... — gaguejei, confusa. — O que... — minha boca estava seca. — Quem... quem é... — puxei o ar com força. — O que é isso, Roxanne? Quem me ligou para dizer aquelas coisas?

Estava horrorizada, e tudo piorou quando o meu olhar se encontrou o do homem enterrado. Era intenso e minha cabeça doeu quando o mesmo piscou com dificuldade, como um último pedido silencioso de misericórdia e socorro.

— Pelo amor de Deus, vamos tirá-lo daqui! É da minha ajuda que você precisava e não queria contar a verdade? — Roxanne abaixou para pegar a pá novamente. — Olha, expliquei para Nathalie a situação e ela emprestou seu carro para que eu viesse até aqui. Podemos levá-lo ao hospital e depois entramos em contato com a polícia. — Roxy encarou-me, soltando um riso fraco.

— Contou para ela, não foi? — a voz de minha meia-irmã se fez presente.

Aproximei-me do homem, ajoelhando ao seu lado, pronta para ajudá-la a tirá-lo dali.

— Disse que te ajudaria em algo, ela não faz ideia que me ligaram no meio da noite dizendo que você seria enterrada viva bem aqui, no fim do mundo! — a encarei ao ficar de pé. — Não trouxe ninguém, não trouxe a polícia, não trouxe o Dylan, sou só eu. Agora pode me explicar o que está acontecendo aqui? Quem foi que me ligou? Quem é ele?

Ouvi um suspiro de sua parte. Ignorou completamente cada palavra que eu disse, enterrando a pá com tudo, para depois jogar uma boa quantidade de terra na cova do garoto, ainda deixando o peito e o rosto livres

— Fala alguma coisa! — estreitei os olhos a observando repetir o ato várias vezes seguidas.

— Se eu fosse mesmo depender da sua ajuda, há uma hora dessas já estaria sentada no colo do capeta enquanto ele canta canções de ninar para o bebê. Sempre foi um desserviço no volante!

— PARA COM ISSO! — apenas torci o nariz para suas palavras, logo tentando segurar as mãos de Roxanne, para fazê-la parar de alguma forma. — QUE DROGA ESTÁ FAZENDO? — meu corpo caiu com tudo no chão pela força do empurrão que levei. — ME RESPONDA! — gritei novamente quando as lágrimas começaram a descer com tudo.

Observei sua expressão mudar de calma para raivosa, como da água para o vinho; Minha garganta fechou. Havia algo que eu não estava entendendo.

— Por que me trouxe aqui, afinal? — sussurrei e ela deu de ombros como se aquela situação toda não fosse grande coisa.

Não estava desenterrando ele coisa nenhuma!

— Bem, você irá matá-lo. — voltou a sorrir aberto, batendo palminhas sem deixar a pá cair.

— É claro que não! — ela revirou os olhos, voltando a enterrar o garoto. — Presta atenção, Roxanne, isso não é engraçado! Temos de tirar esse homem daqui e levá-lo ao hospital. Não precisamos meter a polícia nisso, nós damos um jeito, eu juro que até minto se você quiser porque sei que já é metida com algumas coisas do seu pai. Nunca faria nada para te prejudicar. — levantei, limpando os resquícios de terra que grudaram em mim.

Sua gargalhada preencheu todo o silêncio do lugar, trazendo ondas para todo o meu corpo. Ela gargalhava, eu chorava... Como quando éramos crianças e adolescentes. As lembranças assombraram minha cabeça antes que eu pudesse evitar, me trazendo uma sensação ruim. Apertei mais a jaqueta em mim, como se aquilo fosse trazer a proteção que eu precisava.

Ela brincou com a terra, despejando vagamente sobre a cabeça do menino, pois ele já estava completamente coberto. Assobiando em um ritmo qualquer.

 Parecendo se divertir.

— Acha que você deveria afundar a cabeça dele com uma pedrada? Ou arrancá-la de uma vez? Talvez um tiro na boca? — suspirei.

Eu?

— Eu deveria ir embora.

– Já sei!

Mal tive tempo de raciocinar quando ela retirou uma arma da cintura e não pensou duas vezes antes de dar três tiros certeiros no peito do homem. O som me causou um impacto assustador, e uma onda de tontura extremamente forte me percorreu no mesmo momento em que o grito ensurdecedor ficou entalado em minha garanta. Minhas mãos — já bastante trêmulas —, foram automaticamente até a boca, e por fim, cai no chão novamente.

Meu estômago embrulhou. Procurei forças para ficar em pé diante daquela cena que ficaria para sempre presa em minha memória.

— O que foi que você fez? — pisquei os olhos algumas vezes, na esperança de que tudo aquilo não passasse de um pesadelo que estava prestes a acabar.

— Eu fiz? — abaixou-se ao meu lado, alisando meu cabelo suavemente. — Não fiz nada. Ambas sabemos que quem fez tudo isso ao Brandon foi você. — sussurrou a ultima parte em meu ouvido.

— Está maluca? Eu nem mesmo conhecia esse homem! — tirei suas mãos de mim a força. — Chega, Roxanne! Isso não tem graça, você assassinou alguém! — solucei, a vendo perder a paciência. — Não vou ficar metida em suas sujeiras. Não pensei que fosse ruim no nível de matar alguém e ferrar com o meu psicológico desse jeito. Eu só queria te ajudar.

— Seu psicológico já está ferrado, sua imbecil. Já olhou bem a vida que você leva? Seu namorado completamente abusivo? Sua única amiga doente com uma família desestruturada? — debochou. — Você não vai fazer nada a respeito, nunca fez! Se estiver reconsiderando sua opinião sobre abrir o bico para quem quer que seja, a polícia vai adorar saber que você foi minha cúmplice em um assassinato. Eu tenho contatos, tenho meu pai e posso sair daquele lugar em um piscar de olhos. E você? Quem você tem, Prianka? Seus pais estão queimando no mármore do inferno!

Como ela conseguia falar assim da nossa própria mãe?

Respirei fundo, caindo em si. Ela me enganou completamente e agora conseguia enxergar tudo com clareza. Não estava grávida porra nenhuma. Não queria fazer as pazes porra nenhuma. Onde eu estava com a cabeça quando decidi que deveria acreditar em uma ligação sem pé e nem cabeça no meio da madrugada? Quando decidi acreditar em alguém que passou a vida inteira me fazendo mal? E se não era para me fazer de plateia ou me mandar direto para a cadeia e acabar com a minha vida de uma vez por todas, qual era o real motivo de eu estar ali?

— É tão idiota que me dá pena. — a encarei atenta, saindo de meus pensamentos — Por isso que todos fazem o que querem com você, e a única coisa que faz é dar liberdade para que façam de novo, de novo, e de novo... — um bile subiu em minha garganta.

— Não fico mais um segundo aqui ouvindo...

— Eu pensei bem, de verdade, antes de fazer qualquer coisa contra você. — interrompeu-me. — Quero dizer, já fiz milhares; Mas digo antes de fazer isso. É verdade que te odeio? Sim. Mas pensa comigo: Fazer você sumir de uma vez por todas não é algo que só me deixaria em paz, mas te traria paz também. Viu só como estou empenhada a não pensar somente em mim? — queria mesmo ir embora mas permanecia imóvel, processando tudo aquilo que escutava.

— Para... — as lágrimas desciam feito cachoeira.

— Pode me agradecer depois quando nos encontrarmos no quinto dos infernos, ok? Quero dizer, pelo menos lá você não verá a cara do Dylan por um bom tempo e é isso que eu chamo de livramento. Até eu que torci a vida inteira para você se dar mal ficava incomodada pelo jeito que aquele verme te tratava. Ou era ciúmes porque sentia falta de te fazer chorar todos os dias também? — botou a mão no queixo, pensativa.

Ela pretendia me matar também?

— Por favor, não faça nada que se arrependerá depois. — comecei a dizer, já me afastando. — Me deixa em paz. Não guardarei mágoas de você, não contarei nada para ninguém, mas é só isso que eu te peço; que me deixe em paz. — implorei.

Antes que eu pudesse me virar completamente para sair dali, senti uma dor fora do comum atingir minha cabeça. Por puro reflexo, levei a mão ao local do dano, mas não tinha força para fazer qualquer coisa que quisesse. Segundos antes de ficar totalmente inconsciente, observei os passos de Roxanne se afastarem. Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto quando finalmente cai na terra fria.

...

Quando acordei, tossi fracamente, continuando imóvel até perceber que ainda estava no chão. Um celular que não era meu vibrava no bolso de minha calça.

Antes que o pegasse, caiu a ficha de que eu segurava uma pá em mãos e uma arma na cintura. Arregalei os olhos completamente assustada e perdida, e tudo piorou quando vi a cabeça do homem em uma cova aberta do lado da do corpo enterrado.

Puxei um grito do fundo de minha garganta, jogando a pá no chão e tirando a arma da minha cintura rapidamente, como se aquilo fosse me passar um vírus incurável. Tossi vezes seguidas com ardor na garganta, acompanhada de um enjoo que me fez salivar. Cuspi na terra, enojada, e corri para a primeira arvore que havia perto de mim; vomitei o que estava guardado desde o momento exato em que vi aquele rapaz sendo assassinado.

Dei uma última cuspida e tirei minha jaqueta para passar na boca e no rosto, estava suando muito. Lembrei do celular em meu bolso e o peguei, não vendo nenhuma chamada perdida ou mensagem. Estava delirando?

Então era isso. Roxanne queria me assustar e me fazer passar por um trauma que não superaria tão cedo. Queria me ver sofrer em vida, fazendo o mal de graça para mim porque me odiava. Sempre odiou, quando tudo que eu fiz foi estendê-la a mão com todo o amor e carinho que sentia por ela, apesar de todas as coisas que aconteceram desde a nossa infância. Como pude ser tão cega?

Não contaria para ninguém. Não falaria para a polícia e carregaria essa morte nas costas pelo resto da vida como se eu fosse mesmo a assassina. Não conhecia esse homem, não sei se ele tem filhos, esposa, mãe ou pai.

Me senti a pessoa mais suja do mundo. Estava desolada.

Em um resquício de pena, decidi que apesar de tudo deveria enterrar aquela cabeça. Pedi perdão à Deus, força e coragem para o que faria a seguir. Não sabia das coisas que ele tinha feito em vida, mas se fez algo ruim, eu era tão ruim quanto. Não impedi aquilo tudo quando tive a chance.

A culpa era toda minha, como sempre.

— Pai Nosso que estais no céu... — pausei para respirar fundo. – santificado seja o vosso Nome, venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.

Segurei firme a pá, andando até lá. A afundei na terra, mas ao tirá-la de lá, ouvi passos firmes bem perto de onde eu estava.

Tremi. Será que era a polícia?

— Mas que diabos... — larguei a pá com terra e tudo, temendo virar para trás.

O celular vibrou novamente, e eu engoli a seco, o tirando da calça e me virando com tudo. Duas meninas loiras idênticas e com duas armas bem maiores que a que eu segurei anteriormente me encaravam. Todavia, enquanto uma tinha ido direto checar a cena do crime, a outra me encarava de uma maneira estranhamente esquisita. Larguei o celular no chão.

— Caralho! É ele! — comentou a outra, com a cabeça em mãos.

Cabeça em mãos. Eu deveria correr?

— Mason, Ryan, Bieber! — a mais estranha berrou, como se estivesse lido os meus pensamentos.

Três homens também fortemente armados apareceram atrás da mulher em questão de segundos.

— Pegamos a vadia terminando a droga do serviço. — comprimi os lábios quando os olhares me fuzilaram por completo.

— Eu não... — falei, sem entender do que aquilo se tratava porque eles não eram policiais. — Meu Deus, eu não... — me calei quando uma rasteira me atingiu com força, fazendo com que eu caísse dolorosamente no chão, e uma das gêmeas seguiu com dois chutes certeiros em minha costela e um em meu rosto. O meu grito de dor ecoou por toda parte.

O loiro abaixou-se em minha frente, puxando meu cabelo com uma força fora do comum. Implorei para que ele me soltasse quando começou a me arrastar pela terra, mas ele não parou até que eu ficasse de pé diante de todas aquelas pessoas.

— Não quero ouvir uma palavra, até o momento em que fizermos você falar, por bem ou por mal. Entendeu? – me chacoalhou pelo cabelo, meu nariz jorrava sangue, entrei em desespero. — Vou me certificar de servir sua cabeça de bandeja para quem você trabalha, mandar seus olhos, nariz e orelhas como um presentinho para seus familiares e amigos e jogar o resto no esgoto mais próximo. Você corta cabeças em troca de alguns trocados para sobreviver, estou errado? Eu corto cabeças porque é assim que um Bieber gosta de se divertir, vagabunda.


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