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Capítulo Um: Os Cavaleiros - posted by guest on 27th February 2020 02:38:14 AM

Fazia frio nas ruas usualmente movimentadas da área industrial de Chudley, o tradicional burburinho das conversas e o barulho dos maquinários industriais bruxos residiam em descanso naquela noite. Não que em qualquer outra noite aquela região fosse viva. Quatro vultos, envoltos sobre capas de cor negra escondiam-se atrás de latões de lixo e nas diferenças entre as paredes das casas, movendo-se rapidamente entre um abrigo e outro. Um deles, visivelmente o líder, seguia na frente dos outros três, com uma bússola prateada em mãos que emitia pequenos ruídos de sussurros abafados.

— Tem certeza que estamos no lugar certo, Dale? — Questionou um dos vultos.

— Sim, estamos no caminho certo. — O líder respondeu, de maneira decisiva.

Os quatro vultos continuaram seguindo pela rua, escondendo-se de qualquer fonte de luz que vinha dos postes a lampião. O ano era 2022 e aparentemente os bruxos ainda não gostavam da energia elétrica, salvo pelas televisões em suas casas, aparelho ao qual orgulhosamente começaram a comprar de sua contrapartida trouxa, mesmo que em versões antigas. Dale ouviu um sussurro vindo da bússola e jogou-se rapidamente para dentro de uma ruela lateral, esquecendo-se do cuidado costumeiro dos encontros da sociedade. Os três vultos o seguiram, e ao projetarem-se sob uma ruela escura e iluminada pela luz fraca do luar visualizaram o símbolo da sociedade sobre uma porta. A varinha na vertical, quebrada em duas partes iguais, que cruzava uma caveira dourada com ramos de videira saindo pelos olhos, como se fossem gotas de choro, era o símbolo da Ordem de Hermes. Na porta, uma portinhola se abriu e um homem encapuzado observou os quatro vultos.

— Estão armados? — A voz do homem era grave e imperativa.

— Sim, estamos. — Respondeu Dale.

— Entreguem-me as suas varinhas.

Houve um momento de indecisão e de espanto entre os quatro, mas Dale fez um gesto com as mãos e retirou a varinha de um bolso interno, entregando-a para o estranho pela portinhola. Os outros relutaram, mas acabaram seguindo-o. Apesar de tudo, confiavam em Dale. Houve um pequeno barulho interno, com alguns murmúrios e subitamente a porta se abriu com um grande clarão que momentaneamente cegou os quatro, fazendo-os levarem os braços para frente do rosto.

— Entrem. — Respondeu a mesma voz grave.

Os quatro passaram pela porta e o homem deu uma forte olhada para fora, garantindo que ninguém havia seguido os vultos. A entrada dava origem a um pequeno salão com cheiro de mofo. As paredes eram de pedra bruta, sem qualquer acabamento, e o teto baixo com a luz de velas fazia com que os presentes se sentissem em uma caverna. O homem fechou a porta atrás dos vultos e virou-se para eles, retirando seu capuz. Tinha uma feição dura, com uma cicatriz vertical que cortava o olho e possuia uma barba rala acompanha de um cabelo curto e aparado, com as cores negras e alguns fios grisalhos.

— Retirem o capuz. — Disse o homem, enquanto pegava as varinhas de cada um e colocava-as sobre um pequeno expositório, protegidas por um vidro. — Não é permitido o uso de varinhas nas reuniões da Ordem. Agora, digam-me os seus nomes. — Em seguida, o homem pegou um pequeno papiro e iniciou a escrever.

— Dale. — Respondeu o líder. Tinha um cabelo negro curto, uma aparência esguia e a pele pálida. Ostentava olhos de cor verde, que pareciam ainda mais belos sobre sua figura deprimida. — Dale Lestrange.

O homem parou ao ouvir o sobrenome de Dale e observou-o com grande e renovado interesse. Terminou de fazer a anotação sobre o homem e apontou a pena para o próximo dos quatro, procedendo para os outros e fazendo anotações sobre suas características.

— Pierce Greengrass. — Disse o homem logo atrás de Dale, que tinha cabelos curtos e encaracolados na cor loira, os olhos de um azul profundo e a pele com uma cor perfeita, parecia um anjo.

— Cade Hammers. — O mais alto e atlético dos quatro tomou postura, era facilmente um jogador de quadribol. O seu rosto era delineado e uma barba rala acompanhava-o, mesmo jovem. Os cabelos na cor castanho e os olhos marrons tornavam-no difícil de decifrar.

— Riley Bristlecane. — Disse o último dos quatro. Usava um óculos, era visivelmente o menor deles e, assim como Cade, tinha cabelos marrons, mas não usava a barba.

O homem terminou as anotações e moveu-se rapidamente para a outra porta, deixando o papiro extenso sobre um apoio na parede ao lado dela, Dale leu-o rapidamente e noto que se tratava de uma listagem. Uma listagem dos presentes. E os números não eram pequenos.

— Estão atrasados. Ainda não começamos.

— Tivemos problemas para localizar…

— Na primeira vez todos têm. Já tínhamos noção disso, nossos pardais nos avisaram.

— Pardais?

— Sim. Nossos olhos e ouvidos. Escutam e vêem, mas pouco falam.

— Err, poderia saber seu nome? — Disse Riley, recebendo um olhar acusador de Pierce como resposta.

— Hans. — Disse o homem, de maneira ríspida. — Sigam-me.

Hans abriu a porta, que dava para um corredor de pedra com uma grande porta no final. No corredor havia um balcão na lateral, que projetava um bar, com mesas e cadeiras a disposição, a decoração era visivelmente melhor estruturada do que o pequeno cômodo que estavam antes, e Dale ponderou rapidamente que aquele local tratava-se de um bar clandestino; locais que vinha frequentando havia alguns meses. O barman, um homem gordo e careca com olhos negros virou-se para ver o movimento, esboçando um grande sorriso.

— Olha só, Hans, sinto cheiro de erva daninha. — Disse o barman, enquanto Hans e os quatro passavam em direção a porta.

— E são, Glauber. E são.

— Espero que sejam bons, ao menos.

— Também espero.

Glauber voltou a passar um pano sujo em uma caneca, parecendo mais suja-lá do que limpá-la. Hans desviou a atenção dos quatro quando abriu a porta, e subitamente um clarão ainda maior invadiu o corredor iluminado. Uma salva de palmas eclodiu enquanto Hans e os quatro se adiantavam pela porta. O salão era grandioso e haviam inúmeros bruxos em vestes negras em cada lado, formando um corredor central entre a porta e o palco. Alguns bruxos murmuravam enquanto aplaudiam, e Dale compreendeu uma pequena conversação enquanto passava em direção ao palco, “Quem são esses que o Guia está trazendo?”, “Não sei, Godfrey, não sei.”, “O Emissário permitiu?”, “Sim, Godfrey, é claro. Você é burro?”, “Vai saber, não duvido mais de nada. Olhe para eles.”, “Cala boca Godfrey, ao menos servem de isca.”, “Tem razão Emma, tem razão.”.

Hans conduziu os quatro para as escadarias do palco e aguardou. Um silêncio grandioso abateu-se sobre o salão e todos observaram ansiosos quando um barulho foi ouvido no palco, aonde uma porta lateral abriu-se e surgiram cinco homens em vestes brancas ao invés de negras. O primeiro deles possuia um grande medalhão no peito, com o símbolo da Ordem. Ele abriu os braços veementemente, como se abraçasse os recém-chegados e virou-se para a plateia de bruxos abaixo, que abaixaram as cabeças e beijaram a parte de trás do punho, uma forma de cumprimento. O homem de branco esperou os bruxos levantarem novamente a cabeça para iniciar sua procissão.

— Irmãos e Irmãs, temos o prazer de receber quatro novos indicados dentro de nossa causa. De nossa Ordem. — O homem, que era visivelmente velho e com uma grandiosa barba, virou-se para os quatro. — Seus nomes: Dale, Pierce, Cade e Riley. Todos eles vêm, com intenções mistas, apoiar a nossa amada Ordem. Eu, o Emissário, dou as máximas boas-vindas a vocês em nossa sociedade.

O Guia, Hans, iniciou a guiá-los novamente para o local onde todos os outros se localizavam. O Emissário virou-se para os outros de branco e deu um aceno de cabeça, recepcionando-os a frente do palco. Dale conseguiu sentir um leve momento de consternação passar pelo público quando um dos homens de branco pegou alguns pergaminhos que carregava consigo e começou sua leitura.

— Relatório dos Pardais. O Ministério da Magia Europeu irá transportar uma carga preciosa de ovos de dragão da Estônia para a Dinamarca. Alta segurança. Pouca chance de roubo. — Um leve suspiro de decepção foi visto em inúmeros integrantes na platéia. — A Cleansweep transportará uma grande carga de Cleansweep 8000 de Chudley para Camiers, na França. Alta segurança. Temos infiltrados. Podemos roubá-la. — O homem de branco continuou seu relatório, apontando inúmeros relatos de informações confidenciais e dizendo-as em voz alta. Alguns grupos de bruxos na platéia se interessavam por algumas das informações passadas, como se estivessem planejando seu próximo assalto. Dale virou-se para Hans, o Guia, e questionou como era decidido quem roubaria.

— Não é decidido. O Visão relata as informações colhidas pelos Pardais em um resumo. Depois, aqueles que se interessarem pelo relatório podem pedir ao Visão, e ele entrega um cópia do relatório. O grupo interessado em realizar aquele roubo contata o Escriba, que fecha o contrato e informa o apelido do grupo que está realizando a operação. Os nomes dos integrantes do grupo são conhecidos somente pelo Escriba. — Hans esperou que o Visão terminasse o resumo de outro relatório e continuou. — Após a operação acabar, uma pequena parte dos valores são encaminhados para o Tesoureiro, que mantém os valores circulando, suborna oficiais, empresas, entre outros. Geralmente ele faz isso por meio do Visão, mas é um cargo importante. A Ordem tem muito dinheiro. E o outro oficial é o Orador, que é responsável pelas punições. Afinal, até mesmo em uma república de ladrões há leis e regras.

Dale continuou ouvindo os relatórios do Visão, depois o Tesoureiro falou sobre as finanças da Ordem e em seguida o Escriba comentou das faltas, das operações e leu as cartas encaminhadas para a Ordem. Por fim, o Orador requisitou uma votação sobre a alteração das taxas a serem pagas nas operações, o Escriba leu a lista de votantes e a proposição foi aprovada, por 43 votos a 33. No final, o Emissário realizou um discurso e comentou para que os membros ficassem atentos em suas bússolas e que em quinze dias haveria uma nova reunião.

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